sexta-feira, 23 de julho de 2010

A NAU



foto de meu arquivo pessoal, baía do Seixal, Setúbal, Portugal


                    Acordei numa manhã do mês de abril de 2006 um tanto quanto preocupado com uma visão. Passei o dia inteiro tentando entender os personagens e os fatos. Achar uma interpretação.

                    Segui em direção à uma antiga nau, semelhante àquelas colonial, dos tempos do descobrimento, vinda de Portugal.
                    Estava ali atracada próximo à praça da Biquinha, no litoral sul paulista, na cidade de São Vicente. Cidade que já não mais se remete aos tempos em que era imponente.

                    Atravesso a rampa para embarcar, se bagagens, somente o desejo de querer viajar. Sinto que éramos três nesta viagem, não avisto a tripulação, mas uma senhora quieta, no canto, bem ao fundo. Porém, logo desaparece desta imagem e não a mais vejo.
                   A viagem rapidamente se inicia, perco algumas lembranças, e recordo-me se seguirmos em silêncio. Talvez assustados com este novo mundo que surgiria.
                   O silêncio nos acomoanha até mesmo com os efeitos da natureza: sem vento, sem maresia, sem agitação, nem barukhi da embarcação.

                    Rapidamente atracamos numa ilhota. Desembarcamos somente eu e meu filho. Ele segura firmemente a minha mão.
                    Percebo que somos acompanhados e orientados por um Guia turístico e, neste instante, aprecio ao longe a figura de um abimal selvagem, como um leão, enorme, uma cor um tanto quanto diferente, quase que um rosa, com se fosse de um flamingo. Animal estranho, intrigante. Fico curioso.
                    Este guia me leva á sua direção, e minha curiosidade se torna numa decepção. Ao nos aproximarmos vejo que nada mais é do que um sujeito fantasiado, parado, sem graça, ali em pé.

                    Seguimos percorrendo os lugares, contornando as construções como se fossem prédios de moradia, comuns, nada de especial. Um bairro residencial, um pouco sombrio, sem brilho, sem alegria, não surge o sol, não vejo a lua. Continuamos e fazemos uma curva.
                    Deparamos com uma área parecida aos fundos deste conjunto residencial, umas coberturas, humildes, e no chão repleto de centenas, talvez milhares de cobras. Diversas, pequenas e grandes. Agitadas, perigosas, querendo nos afligir, nos fazer algum mal.
                    Durante toda a caminhada seguiamos eu no centro, o Guia do meu lado esquerdo e meu filho sempre segurando minha mão direita. Fico desesperadamente preocupado em proteger meu filho, agarro-o em meu colo, é ligeiramente ferido em seu calcanhar, ainda bem que não era nada mais grave. O Guia turístico nos orienta a sempre seguir nosso caminho. Pouco depois nos deparamos de volta á embarcação. Lá estava a mãe do meu filho que havia nos acompanhado nesta viagem e não havia descido para o passeio na ilhota. Séria carrancuda, sempre emburrada, sem dar uma única palavra.

                    A viagem prosseguiu, sem destino, sem rumo, sem saber onde teria seu fim.
                    Neste silencioso caminho observo um enorme e lindo rochedo ao lado esquerdo da embarcação. Fixo esta imagem em minha memória, sem explicação.
                    Sem tempo de interpretação desta descrição, Fazemos nossa viagem rumo ao desconhecido infinito deste COTIDIANO.


                   "...E eu sempre estarei com vocês, até o fim dos tempos." Mateus 28:20



Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

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