terça-feira, 14 de abril de 2020

FEITO


Ainda me lembro
Era o mês de setembro
Mesmo eu não querendo
Relembro,  relembro
Dos bons momentos
Que não saem dos meus pensamentos

Ainda me lembro

Era o mês de setembro
Mesmo eu não querendo
Relembro, relembro
O cheiro do assado
Não sai das minhas narinas
A visão que eu tinha do mar daquela marina

Ainda me lembro

Era o mês de setembro
Mesmo eu não querendo
Relembro, relembro
E muito me arrependo
Daquele mês de setembro



Wagner Pires, in Silêncio, O Culto

sexta-feira, 10 de abril de 2020

FALTO


Não basta você ter uma certidão que conste a data do seu nascimento e sua naturalidade
Não basta que nela tenha seu sexo, os nomes dos seus pais e seus avós
Não basta ter nascido numa família, muitos parentes, alguns amigos
Não basta ao passar dos anos você ter número de RG, CPF e tantos outros documentos
Não basta que, entre estes documentos, você tenha tirado um título de eleitor
Não basta ser obrigado a votar para presidente, prefeito, ou governador
Não basta você ter um partido e uma religião
Não basta acreditar num Deus, ou num panteão
Não basta uma carteira de trabalho com alguns empregos bem remunerado
Não basta emitir um passaporte, ter gastado euros e dólares
Não basta residir num rico endereço, viajado o Brasil e o mundo
Não basta ter conhecido praias, desbravar matas, se aventurar em montanhas
Não basta poder assistir ao nascer do sol, o esconder da lua
Não basta registrar todas as imagens em álbuns de fotografias
Não basta as postagens, muitas curtidas, alguns comentários
Não basta saber escrever, rabiscar, saber desenhar
Não basta ser conhecedor de várias assuntos, ser astuto, ter inteligência
Não basta seus carros, a boa ou a ruim aparência
Não basta os muitos romances, algumas mulheres, poucos amores
Não basta ter sido famoso, bem conhecido, depois esquecido
Não basta as histórias que trazem os sorrisos, ou o chorar e lamentar
Não basta as visitas no seu nascimento e as condolências no seu sepultamento
Não basta ter sido alguém
Se na hora do desespero você não é ninguém!

wagner pires, in Silêncio, O Culto