terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

FAVORES



Talvez não vivamos o mundo contemporâneo, são tempos de modernidades tecnológicas e retrocesso social.
Era da geração x, y, z.....
O que fazer?

No mundo lógico quase tudo se compartilha: muita coisa fútil, inútil.
Dividido, cheio de opiniões não aceitam contradições; soberbo na sua razão contrasta com uma profunda solidão, podendo ser vítima de uma cruel doença: a depressão.
No COTIDIANO ficam debruçados em seus celulares olhando o mundo a fora, sem enxergarem o que passa ao seu redor.
Toda esta vontade de ser o dono da verdade poderia ser transformada em fazer a bondade.
Imaginam ter uma capacidade universal: de doutor a pastor, de psicanalista a jurista, de político a gnóstico, de projeto técnico a projeto arquitetônico. São escritores e poetas das redes sociais.

O mundo físico é aquele que necessita da solidariedade, do afago, um simples aperto de mão. Alguém que lhe estendesse o braço, um abraço apertado, um ouvido para que seja ouvido dos seus lamentos de dor.
Sentir o abstrato, perceber as emoções, ter mais contato.
Notar a fome, levar um pedaço de pão, um cobertor para quem na rua dorme.

O mundo está tão lógico que os sentimentos se robotizaram.
A instituição família sem amizade e sem carinho, sem o melhor amigo, aquele que é quase que um irmão, sem atitudes de benevolência (e sobra violência); poderia ser mudada para o rótulo de uma instituição industrial: fria, sem vida; cada um com um número serial.
Cada um com seus problemas. Quem se importaria? Ninguém perceberia. Afinal, são máquinas com expressão superficial.

Rege o egoísmo e o interesse pessoal, quase não se vê uma relação interpessoal.
(Para falar a verdade, nem a intrapessoal: olhar dentro de si, reconhecer os erros, arrepender-se, se desculpar, mudar).
Uma troca de informação, de conhecimento, é feita via envio de dados digitais, mesmo se a pessoa está ali ao seu lado, sentindo o calor do seu corpo. Mas sem conseguir sentir esta sinergia.
Não estivéssemos assim, seríamos uma sociedade com sentido comunitário - uma unidade, menos solitário, mais solidário.

É necessário extrair de si, e deixar agir, toda ação de compaixão, que é uma das características do amor. Uma comiseração piedosa pela tragédia até mesmo do desconhecido e impulsiona uma atitude de participação.  Sem pedir nada em substituição.
A sociedade é um quebra-cabeça em que cada peça deveria ser encaixada de maneira perfeita, sem interferir no espaço ao lado,  e todos pudessem desfrutar das benesses deste espaço coletivo, aprimorando as suas qualificações na unificação.
Viveriam de forma ordenada e em constante progresso.


"O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do sei coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca." Lucas 6:45


Wagner Pires

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

PAI CHÃO - EM 20 ATOS

foto de arquivo pessoal

                    Pai chão é o início de uma linda jornada sedimentando um caminho, asfaltando a trajetória de uma vida. Aquecendo no colo aquele bebê recém nascido, num novo mundo, ainda assustado: primeiro choro. Paixão de vê-lo pela primeira vez, de tê-lo em meus braços e poder lhe transmitir conforto.

                    Pai chão para seus primeiros passos, ainda não tão firmes, equilibrando-se e já querer sair em disparada, eu firme lhe segurando pelas mãos. Paixão de ver teu sorriso por considerar-se um desbravador, vitorioso, conquistando seu espaço com liberdade. Primeiro ano.

                    Pai chão, sair para socorrê-lo, primeiras artes, primeiro acidente, primeiro susto, querer transferir para mim a tua dor. Paixão em saber que nada te abalava e incomodava, não perdia a alegria e disposição. Chegando o segundo ano.

                    Pai chão, chegar em casa e você correr em minha direção, pés descalços, terra no corpo, agarrar meu pescoço e sentir-se seguro. Paixão por ver uma braveza no rosto e carinho no coração, só queria a minha companhia, e que fosse constante, permanecesse sempre ao teu lado. Completou o terceiro ano.

                    Pai chão, mudança de planos, mudança de vida, mudança de país para sempre poder oferecer-te o melhor em todas as áreas. Mesmo na distância era a sua direção. Paixão do reencontro, do abraço apertado, da simpatia contagiante, ser admirado e respeito. Partindo para o quarto ano.

                    Pai chão no trabalho duro e poder surpreendê-lo, presenteá-lo. Enganei-te: fingia estar segurando aquela bicicleta para que pudesse aprender a pedalar. Paixão foi correr alegremente atrás de ti naquela estrada arborizada; aprendera rapidamente a se virar sozinho. Passou voando o quinto ano.

                    Pai chão, mais uma vez tive que ser sua estrada, seu alicerce num momento difícil: a dissolução da família; contrariado, situação que teria que aprender a conviver. Paixão indescritível pela atitude firme de uma pequena criança determinada em optar a morar comigo, independente dos contratempos - tudo se arrumava. O sexto ano foi desafiador.

                    Pai chão com cobranças, firmeza, e que nem sempre colaborava (mimado), chegou o momento de partir para a escola, e as tarefas de casa dividiam-se com as brincadeiras - desviando sua atenção. Paixão de ouvir da professora o tanto que era querido, empenhado em aprender, apesar de algumas limitações, já era um batalhador. Sétimo ano de aprendizado.

                    Pai chão é um caminho de belas paisagens, como também de alguns obstáculos; como toda criança: requer cuidados, e não foi diferente de tantas outras. Paixão e dor, escorria-me as lágrimas pelo seu sofrimento, e não querer deixá-lo, porém uma rápida recuperação, nem uma pneumonia fazia aquela criança parar de brincar e tagarelar. Queria que este oitavo ano terminasse logo.

                    Pai chão, até mesmo em momentos serenos, sem fatos relevantes, sem acontecimentos sombrios ou magníficos. Paixão nesta sua rotina diária que nunca é monótona, sempre são aventuras gratificantes, "o presidente da república" e seus animais de estimação. Seguimos o nono ano em tranquilidade.

                    Pai chão também toma caminhos errados, mesmo com intenções de te oferecer uma família mais presente, uma rota mais estável - acabou sendo mais instável. Paixão com sua tolerância e paciência, compreendendo os fatos e sendo solidário e participativo, nunca me abandonando. Uma jornada infindável no décimo ano.

                    Pai chão numa nova fase, outras direções, uma nova perspectiva, outra vez nova cultura, outra vez nova escola, outros novos amigos. Paixão que se reflete como dos anos anteriores, e as frases se repetem: é admirado e respeitado - somam-se as novas amizades, e ficam eternizadas. Paciência no décimo primeiro ano.

                    Pai chão é um filtro para que nem tudo venha interferir na formação e no caráter, não desviar a atenção e possa viver cada etapa de cada vez, sem pressa. Paixão por poder ter maturidade sendo uma criança, por me ouvir. Décimo segundo ano foi perturbador, confusões, soluções.

                    Pai chão faz mudar os ares, o clima, os desafios, os lugares, sem que perca a meta, a direção, o objetivo. Paixão da rápida adaptação, um sorriso tímido ofusca a insegurança na incerteza sem previsão. Uma breve passagem nesta mudança de paisagem. De lá para cá, de cá para lá neste décimo terceiro ano.

                    Pai chão ensina a ter mais responsabilidades quando chega a adolescência, o mundo tem seus caminhos mais perigosos, nem tudo que parece bom e prazeroso é saudável - minha presença sempre deve ser constante. Paixão pelo comportamento honesto, responsável até mesmo nas discussões das nossas diferenças, instável como qualquer adolescente. Décimo quarto ano começa discernir o bem e o mal.

                    Pai chão quando tem que enfrentar novamente a enfermidade, estar ao seu lado, apoiando, mesmo não sentindo a mesma dor, sinto uma dor na alma, senti-me impossibilitado de poder te curar. Paixão pela sua determinação, não desistir, não desanimar aos reveses da vida e ainda achar graça. Quando o décimo quinto ano chega, é hora de reflexão e adaptação.

                    Pai chão na hora de aperfeiçoar o caráter para que não haja soberba, prepotência, arrogância, independente da tua posição social. Paixão e admiração em fazer aquilo que um dia sonhei, ou ainda aquilo que eu fui um dia. Este décimo sexto ano foi uma estrela.

                    Pai chão ensina o respeito mútuo, a fidelidade, a justiça, a compreensão, o amor - o  relacionamento amoroso. Paixão por participar do seu primeiro amor, primeiro romance, por assumir outras responsabilidades. Um menino cada vez mais homem vivendo seu décimo sétimo ano.

                   Pai chão no momento de buscar uma carreira, um ofício, algo que satisfaça profissionalmente e financeiramente. Paixão irradiante, todos os dias ser ouvinte da tua disposição em executar as tarefas diárias do trabalho, o respeito pelas pessoas neste ambiente profissional, para que venha aprender e prosperar. Décimo oitavo ano foi surpreendente, diferente do que imaginávamos, mas o que sempre sonhou.

                   Um pai em 20 atos para ser um alicerce, a base de tudo, um chão a ser trilhado, uma estrada, um guia, um rumo, traçar as rota e direções. Determinar o roteiro e a rotina para cada etapa. São exemplos a serem repetidos e outros a serem esquecidos. Caminhos a serem percorridos e outros a serem desviados. Pai que às vez é um chão com obras para manutenção, outrora endireita para facilitar os acessos, ou ainda permite as curvas e obstáculos para que possa amadurecer e crescer. É a paixão de um pai que tem nesta criança um amigo. Criança que tem se tornado um homem, e para que um dia este homem seja também um pai, e que possa descrever este amor para ser o condutor da tua geração.

                    É apenas o décimo nono ano da nossa linda história que vai se escrevendo  com vitórias que nos alegram e derrotas que nos ensinam. Relatos deste COTIDIANO que ficam como retratos em nossos corações.


Wagner Pires