terça-feira, 5 de março de 2024

JESUS TE AMA

https://www.katholisch.de/artikel/28489-verrat-oder-friedensinstrument-die-zwei-gesichter-der-heuchelei



Sexta-feira, por volta das 21 horas, o marido da um beijo no rosto de sua mulher. Ela com um bebê ao colo, outro agarrado às suas pernas e outros dois sentados no sofá brigando pelo controle do videogame.

A pia ainda se encontra com toda a louça do jantar, fogão com as panelas e o que sobrou de comida. Mas é hora de dar banho nas crianças e colocá-las para dormir. Depois disto voltar para organizar a cozinha.

A tarefa não para por aí. Se encaminha para a lavanderia para estender as roupas que estavam sendo lavadas na máquina enquanto preprava o jantar.

Termina a noite, termina a madrugada, inicia o dia. O marido chega, embriagado, acorda a esposa e assusta o bebê que dormia ao lado. As crianças ficam apavoradas.

Dormiu por toda a manhã e desperta reclamando do almoço. Está com pressa para ir ao pagode com os amigos.

Sai mais uma vez, todo arrumado, perfumado, som alto no carro, partiu acelerado. Desta vez, nem um beijo no rosto.

O final de semana se foi, o marido nem chegou ainda.

Na segunda-feira abre a porta em polvorosa, irritado porque terminou com a namorada. E a mulher é que é espancada.

Separação? Não pode. Como seria enfrentar um mundo sem a sua existência? É obrigada a seguir acreditando, tendo fé que um dia tudo irá mudar, as coisas vão começar a dar certo.

Ferida no corpo, machucada na alma ouve da própria mãe: "tenha paciência, homem é assim, ele casou jovem, quando estiver mais velho ele vai parar com tudo isso. Eu vivia assim com seu pai, e ele me dizia que me amava".



por Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto



terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

DEPOIS

imagem: https://i.pinimg.com/originals/fc/59/e3/fc59e3da49a982b1217f89d58f6cf5dd.jpg


Fica o dia
Fica a noite
Fica o ontem

Fica o passado
Fica a saudade
Ficam as lembranças

Ficam os desejos
Ficam as vontades
Fica o tempo

Ficam dores no corpo
Fica dor na alma
Fica o ceticismo

Fica a irritabilidade
Fica a desconfiança
Fica a solidão



Wagner Pires
Roteiros de Uma Rotina




terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

DESALENTO

https://www.deutschlandfunkkultur.de/soziale-netzwerke-ueber-breitscheidplatz-bestuerzung-trauer-100.html


A cidade cheira a fezes humana
Roupas sujas, molhada de urina
Cheirando o suor do corpo não lavado
Moradores de rua em todos os lados

A cidade cheira a insenso
Aromas que saem do narguilé
Cheira a carvão queimado
Fumaça para todos os lados

Na cidade cheiram, tragam, baforam, fumam
Um tiro, um tapa; balinha, k2, k9
Um mundo alienado
Agitação e adrenalina em todos os lados

A cidade cheira a pólvora e cheira a sangue
Sangue escorrido pelo chão
Trabalhador assaltado
Insegurança em todos os lados

A cidade cheira a poluição
Carros velhos, sem manutenção
Fábricas expelindo o óleo queimado
Desrespeito por todos os lados

A cidade tem cheiro de esgoto a céu aberto
Nas terras invadidas, nas comunidades
No rio contaminado
Abandono em todos os lados

Poderíamos sentir o cheiro dos frutos e das flores
Da paz e da tranquilidade
O perfume do casal apaixonado
Exalar o amor em todos os lados

Mas tudo isto não me cheira nada bem
Me cheira a corrupção
Me cheira a acomodação
E a cidade vai ficando cada vez mais aquém


Wagner Pires
Silêncio, O Culto

domingo, 28 de janeiro de 2024

FANTASMAGÓRICA FANTASIA

imagem: https://pixabay.com/de/illustrations/weiblich-frauen-gespenstisch-sumpf-8203362/


O mundo atual é puramente virtual
Nada natural
Muito artificial
Comportamento anormal
Injusto e desigual
Teoria banal

Cheio de corantes
Espessantes
Aromatizantes
Anabolizantes
Conservantes
Estabilizantes

Para ativar a serotonina
Dopamina
Endorfina
Morfina
Substância que lhe defina
Mas exala toxina


".....maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço..."Jeremias 17:5



Wagner Pires
Roteiros de Uma Rotina

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

OLHANDO NO RETROVISOR

crédito da imagem: https://pt.pngtree.com/freebackground/road-h5-distant-background_679900.html


Fabricado no longínquo anos 60, tadinho, já está dando muitos problemas. Acho que já está na hora de o aposentar.
Não digo jogá-lo ao ferro velho, sucatear suas peças. Abandoná-lo no terreno baldio, onde cresce a erva e o lixo. Mas de encostá-lo na garagem e deixá-lo descansar.

Afinal, foram mais de 60 anos na estrada, muito bem rodados.
Analisando toda a sua trajetória, parece mais um trator, ou um tanque de guerra nos campos de batalha. Incansável trabalho pesado, infindáveis lutas. E poderia dizer: cansou do trabalho pesado; cansou das lutas.

Os amortecedores já não são os mesmos, já sentem o desgaste das passadas.
Nem o óleo desce perfeitamente pela tubulação, parece que tudo entupiu. Tem que se alimentar de um óleo aditivado, colocado bem devagarinho para que não venha a engasgar.
E por falar em engasgar, às vezes, na hora de ligar, tem que engatar uma segunda marcha para ver se pega no tranco. Não que precise empurrar, ainda não chegou nesta fase, mas no tranco, às vezes, como disse, é necessário.

Vive na oficina. Sempre fazendo um check up. Teste disso, teste daquilo. O mecânico passando "medicamentos especiais" para prolongar sua vida útil. Ocasionalmente uma vida meio que inútil..

O motor ainda não está batendo biela, segue firme, pulsante, a pressão como de um adolescente. Mas é uma fumaceira danada, bufa o dia inteiro. Acho que o problema é no sistema de alimentação e distribuição.

O velhinho anda um pouco enferrujado, desbotado, perdendo o brilho. O seu auge, o seu glamour, já passou faz algum tempo. Agora é ir tocando, trocando as marchas bem suave. Nada de acelerar. Pé no freio e pouca estrada, desviando dos buracos, pegando os atalhos da vida e esperar o momento de apenas ficar registrado na história.

Modelo único, com o número do seu chassis registrado, documentação em dia. Cumpridor do seu papel, da sua função para a qual foi produzido, com respeito. Deixando um legado de um novo modelo, aperfeiçoado. Mais moderno, mais eficaz, bem mais melhorado. Em tempos tecnológicos é perfeito, muito eficiente. Capaz de desbravar o mundo.

E assim segue a vida, olhando no retrivosor o caminho seguido, e fica para quem vem atrás se aventurar nestas novas estradas, novas jornadas, desafios e conquistas.
Estes outros novos modelos para perpetuar de geração em geração, e as histórias daquele velhinho carrinho, com carinho, jamais ser esquecida.


Wagner Pires

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

DESCASO

créditos da imagem: https://www.boredpanda.com/creativehardshadowphotography/media_id=565298&utm_source=facebook&utm_medium=link&utm_campaign=BP



Na sombra de uma árvore, balanço-me numa rede
Meu momento de relaxar e nada para pensar
Nem do enfadonho trabalho que me caiu ao colo
Muito menos das crises sociais mundiais que me fartam a cabeça
Aproveito apenas a solidão que coube a mim ter que viver

Sem sombra de dúvidas, vou deixar para me preocupar apenas com o jantar
Enquanto isto, vou me hidratando para que não desfaleça
Afinal, o calor está intenso e não quero nada que seja tenso
Já basta que sou muito propenso à irratabilidade
E, não peço paciência para não ter que prová-la

As sombras do passado, que sempre me acompanham, são os testes da minha tolerância
Ou a chamaria de intolerância?
Visto que minha idade não me permite mais ter que aturar cobranças banais
Comentários superficiais de tramas triviais
Sempre fui exigente comigo mesmo e o mundo, por isso procuro desafios profundos

A sombra de obstinação, com capacidade e respeito, eu deixo como herança
Uma representação fîsica e mental daquilo que eu vivi
Mesmo que o lugar seja mal iluminado debaixo da pequena árvore
Ou a rede um tanto quanto fraca para me aguentar
Simplesmente deixo de balançar e espero o tempo passar

Pois, não preciso de uma sombra para maquiar a minha personalidade
Para uns, a transparência já se incubiu de me transformar num monstro
Para outros, talvez, ela me revelou um fraco e incapacitado
Fico imaginando se alguém é capaz de enxergar além das minhas entranhas
No oculto, onde não há sombras


"Porque da janela da minha casa, olhando eu por minhas frestas, vi entre os simples, descobri entre os moços, um moço falto de juízo, que passava pela rua junto à sua esquina, e seguia o caminho da sua casa; no crepúsculo, à tarde do dia, na tenebrosa noite e na escuridão." Provérbios 7:6-9


Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

quinta-feira, 29 de junho de 2023

EU




O Eu se acha o âmago do universo.
Fala alto, ri escrachado, gesticula, gosta de chamar a atenção. O centro das atenções.
Gosta de ouvir música alta em todo lugar.
Não é alta, é muito alta. e nem se importa com nada.
Geralmente é aquela música bem brega. Aquele jabá tocado em looping.

Aquele domingo ensolarado no parque ou na praça, quando queremos nos refugiar para apenas ouvir o som dos pássaros, do vento balançando as árvores. O barulho da criança correndo e rindo. Do pedalar da bicicleta. Dos sussurros dos casais e das famílias.
Apreciar o silêncio.
Na praia não quermos distração, apenas ouvir o rebentar das ondas. Olhar o horizonte, onde o céu encontra o mar.
Deitado relaxado observando o azul deste céu.
Mas eis que surge o nascisista com sua caixa de som JBL para tirar sua paz e sossego.

Este desconforto também é sentido nos transportes públicos, tem a briga pela audiência.
Balbúrdia do trânsito e a azáfama lá dentro.
Gritaria, falatório e o Eu querendo chamar a tua atenção. Te observa querendo te envolver na conversa.
Ônibus, metrô, trem, inclusive no Uber é esta confusão. Música, novela, conversa no telefone, áudios do aplicativo.
No táxi é sem comentário, aí é um exagero de desrespeito. Futebol.
A narração é pura gritaria.
Nem se importam qual é o seu time, se é que você tem um time, se é que você gosta de futebol.

Barulho, barulho e barulho em todos os lugares.
Quando você mora num condomínio, seu refúgio para o seu conforto, sua segurança e silêncio.
Ah, aquele vizinho festeiro.  De olhar arrogante, com a pálpebra caída. Semblante soberbo.
O pobre palhaço se considerando alegre e divertido dono da verdade.
Considera que sua música é a número um nos trend top mundial.
Que seu gosto musical é o favorito de todos. A preferência universal.
Simplesmente porque é o seu gosto musical.

Barulho, barulho, e mais barulho, de todos os tipos.
Por falar em condomínio, não posso deixar de mencionar aquela família que mora no andar de cima.
Vivem como se morassem numa casa térrea cercado pelo verde.
O solitário numa ilha deserta sem ninguém para incomodar.
O caminhar do salto alto no porcelanato. O som alto das músicas, o brinquedo das crianças sendo jogados e arrastados. Arrastando também a cadeira da sala de jantar e da cozinha.
Gritaria, risos, falatório. Um vasto repertório.
Não tem dia nem hora. desconhecem a sua rotina e horário de trabalho. Nem te conhece, te ignora.

E quando o narcisista é o dono do bar (boteco, adega, lounge - cada dia um nome novo)?
É festa todos os dias, sem hora para começar e para acabar.
Alguns restaurantes estão adotando a prática da música ao vivo. É o fim.
Aí você me diz: "restaurante com música ao vivo sempre teve". Sim, mas não numa altura que seja impossível conversar, poder desfrutar e saborear uma refeição em família.
Alguns restaurantes se consideram balada.
Nestes casos de estabelecimentos comerciais, não adianta fazer boletim de ocorrência, não adianta ligar para a polícia, muito menos abaixo assinado com os vizinhos. Esquece, ninguém age, ninguém se importa, o que importa é o valor da propina.
Ir falar com o proprietário, nem pensar, é perigoso. Nos dias de hoje, não sabemos com quem estamos lidando.
Nestes estabelecimentos com este som ensurdecedor: se está lotado, ninguém consegue conversar. Se está totalmente vazio, som alto para quem? Para os vizinhos ouvirem e não poderem assistir a TV, o bebê não dormir, a gente não dormir.
O som avança a madrugada.

Se todo este dilema fosse apenas o som alto (que já seria muito).
Mas ainda tem outros. Por exemplo, o escapamento cerrado da moto do entregador do aplicativo que acelera desnecessariamente nem à sua porta.
O escapamento furado do carro velho com o motor batendo biela e soltando muita fumaça.
São 24 horas dos sete dias da semana.

Nos dias da semana ainda tem que aguentar o megafone do vendedor ambulante.
A pamonha, a água sanitária, a reciclagem de óleo, o entregador de gás.
Promoção do ovo, a pizza de 10, e tantos outros produtos e afins.

O locutor no microfone dos supermercados, ou na frente das lojas, anunciando a promoção, acha que está numa feira. Igualzinho ao ultrapassado formato do programa de auditório.
Locução esta que sempre é acompanhada de uma trilha sonora. Justamente aquela: a música brega que virou modinha no carnaval passado.

A saúde mental do brasileiro não é normal.
Falam muito da poluição do ar e das águas, mas esquecem-se da poluição sonora.
Tem ainda aqueles que são contra o governo regulamentar a sociedade para educar e evitar o barulho.
Mas não da para esperar um comportamento respeitoso do narcisista.

O Eu, o narcisista, ainda é um ufanista.
Ele é o melhor, que tudo que possui e faz é o melhor.
Por isso, não vai se importar com a multa, pagando ou não pagando.
Para ele a multa não é uma forma de educar, uma maneira de doutrina-lo. Uma medida restritiva. Considera a multa um mecanismo do governo tirar dinheiro.
Por se considerar o melhor, não se acha na condição de ter correção.
E, se você não acha-lo o melhor, o problema é seu.

Quantos motoristas respeitam a faixa de pedestres, e quantos já foram multados?
Quem não respeita e não quer respeitar não vai enxergar a multa de uma maneira educacional, porque não se importa com ninguém.
Salve-se quem puder.
Haja paciência!



Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto

quarta-feira, 28 de junho de 2023

MEU CÃO



O tempo passou e se tornou especial, de raça
Me deixou aqui sozinho na praça
Agora, olho a vida quando abro e me debruço na minha janela
Vêm os pensamentos, as dúvidas, reflito em minhas mazelas
Tomou seu rumo em busca do seu próprio destino
Em minha velhice, pago as consequências deste meu desatino
Porém, partiu e não quis dar satisfação
Talvez não quisesse mais tomar partido na minha depressão
Cansou das lutas que vivemos e a preocupação em sua segurança social
Preferiu que cada um levasse uma vida individual
Nesta nova caminhada, que conquiste a felicidade e lhe faça prosperar
Eu apenas aguardo o momento de me aposentar


Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

terça-feira, 4 de abril de 2023

ESPELHO

imagem: https://www.sueamado.pt/2020/08/a-mudanca-deve-comecar-sempre-por-quem.html?spref=pi


- Quem sou eu?
- Não sei, me diga você.
- Não sei mais quem sou, o que sou, porque sou.
- Se nem você se conhece mais..... E, por que me pergunta?
- Também não sei.
- E o que te traz aqui?
- Aqui onde? No Banheiro?
- Não, não, aqui, aqui.
- Ah, sim, aqui......aqui. Pois é, meu lugar não é aqui, meu maior erro.
- Se foi um erro, e seu lugar não é aqui, está só de passagem?
- Sim, talvez. Mas demorando muito, e nem sei para onde vou, quando vou.
- Não sabe para onde vai, porque veio.....
- Perguntas sem respostas. Como disse: uma grande bobagem, estou de passagem.
- Caminhando e esperando o tempo passar?
- Sim. Caminhando, voando, flutuando; viajando, sonhando, delirando. Delírios e devaneios.
- Sonhar. Sonhar não resolve.
- Eu sei, por isto estou indignado comigo mesmo: meus sonhos e meus desejos. Minhas necessidades: minha culpa por não conseguir realizar meus sonhos, não suprir meus desejos e estas minhas necessidades. Aliás, os sonhos foram realizados, porém todos eles mal executados.
- Grande otário. E não me venha com conversa de fé para conquistar.
- Também sei. Longe disso, nada de religião. Foi por acreditar nas pessoas que só tive frustração e decepção.
- Bem que eu te avisei! A admiração que eu tinha por algumas pessoas eu perdi, assim que eu as conheci.
- Pelo menos este tempo foi revelando tudo e todos.
- Quem é quem, e porque são assim. Ou melhor, porque agem assim.
- Interesses, meu caro. Interesses.
- Cada um preocupado com seus próprios interesses.
- E o tempo é o meu pior inimigo. Insiste em me contrariar. Quando tenho pressa ele é devagar. Quando preciso esperar ele é rápido demais.
- Xi, perdi a noção do que é o tempo. Nem quero saber que dia é hoje para não me chatear com meus afazeres. Parece que foi ontem o que faz muito tempo, e o que faz muito tempo parece que é hoje ainda.
- Para mim, parece que já é tarde para tudo.
- Nem sempre. Depende o que podemos considerar ‘ser tarde’. Depende o que se tem que realizar.
- Sim, mas...esta é a questão: realizar. Como vou saber o tempo que irá se realizar: se demora muito para acabar, ou não? Estou cansado.
- É uma boa pergunta. E você já havia comentado: ‘demorando’. Rapaz, não tem como alterar o tempo. Acelerar, voltar ao passado. Isto só causa ansiedade e depressão.
- Muito difícil de entender e explicar.
- Nem tudo conseguimos um entendimento e uma explicação.
- Por isto estou tentando ir levando, mesmo sem entendimento.
- Confuso. Ninguém caminhando de lugar nenhum, para lugar nenhum, sem saber quando partir.
- E para quê?
- Isto também: para quê.
- Só sei que este tempo foi me transformando: para o bem ou para o mal.
- Verdade, vai nos moldando, mudamos a percepção do mundo. A luta do bem contra o mal que também necessita de reflexão.
- Complexo este tema do que é o bem e o mal, como saber?
- Salve-se quem puder.
- Salvar-se para sobreviver.
- Viver cada dia o seu próprio mal.
- Tudo isto me fez enxergar que sou o criador e a criatura. O monstro que sempre fui, o monstro que me tornei.
- Percebe-se pelas cicatrizes.
- Prefiro nem olhar mais, imaginar tudo isto em meu caminho. Carregar o fardo do passado como lembranças e esperança para um futuro incerto.
- O monstro desconhecido em seu desconhecido caminho no limiar da sua própria loucura.




"Naqueles dias, as pessoas buscarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer, mas a morte fugirá delas. O aspecto dos gafanhotos era como o de cavalos preparados para a batalha. Em suas cabeças havia algo como coroas parecendo ouro, e o rosto deles era como rosto de seres humanos." Apocalipse 9:6-7







segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

A CAVERNA

https://www.flickr.com/photos/24658705@N02/3468296151/



Meus sentidos caminham ao redor e não vejo uma saída
Vislumbro uma penumbra num enorme vazio sem vida
Vasculho, reviro, revisto, não encontro nenhuma palavra
Nem mesmo as lembranças estão visíveis
Foi-se a alegria corroída pela traça
O desespero reverbera uníssono ao silêncio

Nesta escuridão, perdeu-se a visão
Estático como uma estalagmite
Fruto de uma ação inerte
O gotejar constante d'uma opressão caída da estalactite
No tempo que passa devagar quase parando
Pálido sem cor e sem brilho na ausência de Luz

Intolerante ao grito, incomoda qualquer ruído
E quanto mais se aprofunda, mais afunda
Acender uma fogueira só queimaria o pouco do oxigênio
Stress, vertigem, garganta sufocante
Neste vácuo desabitado de pinturas rupestres
Se adaptar no dia a dia para poder chegar ao último instante


"Com o silêncio fiquei mudo; calava-me mesmo acerca do bem, e a minha dor se agravou...Poupa-me, até que tome alento, antes que me vá, e não seja mais." Salmos 39:2 e 13


Wagner Pires
in, Roteiros de Uma Rotina

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

AH, O AMOR

https://i.pinimg.com/originals/9f/5c/2e/9f5c2ea1555a141d1416b4352ad33977.jpg


Amores conquistados
Amores perdoados
Amores inventados

Amores divividos
Amores esquecidos
Amores renascidos

Amores invisíveis
Amores impossíveis
Amores inesquesíveis

Amores pervertidos
Amores escondidos
Amores perdidos

Amores safados
Amores danados
Amores abençoados

Amor escrito, descrito, falado e cantado pelos poetas
Amor pintado e esculpido pelos artistas
Amor encenado e representado pelos atores

Amor nem sempre vivido na vida, e que causa dores
Amor, é amar sem dor
Amar o amor

Julgar e conjugar todas as formas de amar
São expressões que facilmente sai da boca por clamor
Mas nem sempre a verdadeira atitude para se desfrutar


"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria". 1 Coríntios 13:1-3


Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

sábado, 5 de novembro de 2022

NO MEIO DO AMBIENTE

imagem: https://www.jornaltornado.pt/pandemia-pode-estar-causando-danos-ao-meio-ambiente/


Já passa da meia noite
Encontro-me deitado
Sonolento, meio atordoado
Não sei se são sonhos ou se são os meus pensamentos

Só sei que é o meio da noite e já passei pelo meio da vida
Somente meios sonhos foram realizados
A outra metade, nem sei ainda
Pois parece que foram levados pela enxurrada no meio fio

Muito frio, lá fora uma chuvarada
Calço meias rotas, meio furadas
Assim como o projeto que foi um desvario
Um copo meio vazio

Tudo eu sempre questiono
Fico com um pé meio atrás, assim não me decepciono
Porém, desta vez acredeitei e embarquei
Entrei de gaiato e fiquei pelo meio do caminho, me lasquei

Aí eu me lembro do que um amigo certa vez me disse
Que eu sempre deixava as coisas pela metade
Não gostei do comentário, mas não era nenhuma tolice
Fazia meio sentido, precisava ter mais força de vontade

Isto nunca sai da minha cabeça, por isto vivo numa luta constante
De encontrar um meio de solucionar esta equação
Para voltar de onde parei, não obstante
Deixar de ser meio frustrado e agir com determinação


por Wagner Pires
in, Roteiros de Uma Rotina


sexta-feira, 21 de outubro de 2022

FRAUDE



Dói minh'alma e as mentiras vem de encontro ao meu coração de forma cortante
Fico tenso e preocupado, a paciência palpitante
Revoltante
Está muito desgastante
Parece que as pessoas preferiram tirar o cérebro e deixa-lo sobre a estante
Mas não por um instante
Na ignorância, em atitude cruel,  mentir e mentiras é um ato constante
Irritante
Sai da boca do indecente presidente e da boca do seu militante
Desapontante
Ver pessoas queridas acreditarem e propagarem inverdades tão gritante
O vizinho, o amigo, o familiar se tornou um confrontante
Os evangélicos esqueceram até o que é ser um verdadeiro cristão protestante
Protestar contra a ação e a palavra que divergem da Verdade, que é conflitante
Como podem esquecer um passado que não está tão distante
Nunca poderemos apagar estes fatos, devem ficar registrados na história - muito importante
Para no futuro, saberem escolher com sabedoria e responsabilidade o seu representante

"E disse aos discípulos: É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem!.....Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão os corvos." Lucas 17:1 e 37


por Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

FALÁCIAS E FALÉSIAS

imagem: http://egyketmondat.blogspot.com/2018/01/sotetben.html?spref=pi


Disseram que era lua nova, m
as de novo não havia nada
Pelo contrário, era tudo antigo, voltamos no tempo
Aliás, no poder continuam os mesmos idosos
Impulsionados pelos fervorosos religiosos
Me sinto na Idade Média - hipócritas inquisitores
E, por ironia, até vivemos uma pandemia
Nestes tempos de influenciadores, a Terra é plana, a inteligência é rasa
Muita lorota
Idiotas

Bate aquela fome, a geladeira está vazia
A luz do lampião ajuda a cozinhar à lenha no velho fogão
O menú está farto: pé de galinha acompanhado por quebras de arroz
Com o carro na garagem encostado, ir de charrete ao mercado
Em embalagem descartável reutilizada, compra um litro de soro de leite
Alguns ovos subistituem a carne neste cardápio, sem nenhum deleite
Os preços aumentaram
As embalagens diminuiram

Uma gritaria: "mãos para o alto"
Seria um assalto?
Sim, o pastor pedindo aos fiéis para orarem pelo pobre presidente
Demente
Um dia será cobrado por esta atitude inconsequente
Barganha-se livros por propina
Em barras de ouro
Dinheiro roda em pneus Michelin
Em direção aos pastores da Michelle

Fecham as escolas, demitem a ciência, arquivam os projetos
Da mesma forma fecham-se as casas de espetáculos
Shows apenas nas praças das cidades: "obrigado sr. prefeito"
Desde que agrade ao seu gosto musical
Ou seria eleitoral?
Estes são alguns exemplos de muitos fatos
A imprensa ainda omite alguns relatos

Nestes anos foram tantas as polêmicas
Diárias
Que afetou a todos de forma sistêmica
Um incapacitado, um pária
Em tudo pôs sigilo
Um chorumela para esconder suas falcatruas
Sua e de seus pupilos
Tudo pago em dinheirio vivo
Deixando uma sociedade morta

Enfim, estamos prestes a chegar à este fim
Foram tempos difíceis
Suado, desgastado, cansado
Em tempos virtuais, está tudo registrado
As verdades ficaram esculpidas nas falésias da história
Não se pode esconder estas muitas falácias
Poréma lua será crescente nesta noite de véspera
Crescer, é o que se espera


"...também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão..." Romanos 5:3-5


por Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto 




quinta-feira, 15 de setembro de 2022

FERROLHO



Quem sou
Para onde fui, ou para onde vou
Quem se importou?
Talvez aquele que achou que se prejudicou
Porque não se beneficiou
Mas não se beneficiou porque apenas gritou
Bradou, blasfemou, ofendeu, xingou e não dialogou
Tudo à seu bel-prazer forjou
Arrogância, não se curvou
Agressivo, nunca esteve em meio campo analisando a jogada, sempre atacou

O outro, nem hesitou
De tanto que cutucou, cutucou
Que o prazo de validade expirou
Sua paciência se esgotou
Estufou o peito, o mundo enfrentou
As dificuldades encarou
Driblou e passou
Por fim, se exilou
Mas sua bandeira hasteou e ela tremulou
Triunfou

Em seu caráter, um decreto determinou e assinou
Para a sua memória emoldurou
Retornar, nunca cogitou
Pôs um fim, acabou
Do passado inglório nada sobrou
Nem mesmo aquela a quem lhe rejeitou
Esta, ele alijou
Nem a humilhou
Apenas a tensão em sua consciência abrandou
E, em seu definitivo repouso, hibernou


"Ninguém desprezs a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no esp[írito, na fé, na pureza. Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá." 1ª Timóteo 4:12-13


por Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho





sexta-feira, 9 de setembro de 2022

EU E MEU CÃO





Com nossa identidade peculiar
Não queremos ser avaliados, muito menos em avaliar
Olhamos as janelas que o mundo nos oferece
Firmamos nosso planejamento como nossa prece
Sempre com os pés prontos para enfrentar a estrada
Nunca definimos a nossa última parada
Meu fiel amigo segue o curso da vida e encontra uma linda donzela
Seguir-nos aquela com delicadeza e perfume de macela
Alegrando nosso COTIDIANO desta alucinada jornada
E assim, nesta caminhada
Seguiremos em firmes passadas
Mesmo que as circunstâncias nos tragam algumas pauladas


por Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

SINFONIA

imagem: https://www.canon.co.uk/get-inspired/tips-and-techniques/macro-photography-tips/?epik=dj0yJnU9SUtQNUJUUzdXdlRMODNESUd4dG9WS20yTWczb1BreDcmcD0wJm49aFJGc1pIYnVxR2l5OGhZOTB2MnBrUSZ0PUFBQUFBR01ZNmdF



De sol a sol
Trabalho, muito trabalho
Mas continuo só

De verão em verão
Tudo é um intenso inverno
O benefício do trabalho, muitos nem verão

Dia após dia
Segue sempre a mesma rotina
Por aqui estou de passagem, fazendo uma estadia

De hora em hora
Não é o resultado da telesena, uma pena
Não precisaria contar as horas para poder ir embora

É um passo a passo
Tendo que controlar a ansiedade
Para não perder o ritmo do compasso

Notas em notas
Trilha sonora num acorde
Comemorando a vitória sobre a derrota



"E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir de imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória."
1ª Coríntios 15:54



por Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto






quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O FAROL

         

crédito da imagem: Dawna Moore Photography
https://1lifeinspired.tumblr.com/post/690580394483056640


          Os muitos anos foram se passando, o Farol, prostrado sobre a Rocha, sempre esteve à espreita para guiar o caminho. Porém os navios foram atravessando sem aportar, sem se importar.

          Navegavam ao viés. Seguiam em caminho de ida, caminho de volta, e o Farol ficando pelo caminho, sem nenhum carinho. Sem a companhia do navio, o lugar ficava vazio, aos pés do Farol onde ele repousaria.

          Ensurdercedor gralhar de gaivotas e outras aves a rodearem, quando da procura de alimento e descanso, e até mesmo no ritual para acasalar, era o que constrastavam com o agitar da maré. Ao lado, o mato crescendo servindo de pasto e abrigo.

          Estes agitar das ondas, causadas pelas travessias, fez com que a Rocha fosse perdendo a força, definhando, o Farol desmoronando, quase acabando. Enquanto isso, suas luzes foram enfraquecendo, se apagando, com muita garra para que seus espelhos refletores ainda pudessem mandar um sinal de condução e proteção. O olhar a procurar, a querer guiar o rumo e a direção.

          Vinha a chuva, em fortes trovoadas, erguia-se o sol com intenso calor. O sol se punha e surgia a lua, brilhava as estrelas, ou escondiam-se atrás das nuvens. Os lábios secaram. Não mais teve a oportunidade de lançar o beijo do despertar: "acordar e zarpar, hora de trabalhar".

          E assim, independente de navios ou barcos, se o tempo estava forte ou fraco, o Farol, sentinela solitário, no seu COTIDIANO, não abandonava seu posto, mesmo tendo sua base se transformado um charco.

         Emblemático, não perde seu caráter de ser empático em seu trabalho nem sob densa neblina nem refrescante orvalho.



por Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho




domingo, 28 de agosto de 2022

SANTO DO PAU OCO

https://i.pinimg.com/originals/59/a0/0a/59a00ad8da00fbcf8fdcb043bb9dd9fd.jpg


Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto

sábado, 9 de julho de 2022

DEZ COMPROMISSO



C'um enfoque no infinito
Vou fugir por este selvagem mundo
Montanhas escalar
E lá no alto
Ao ritmo da batida do techno
Fechar os olhos e viajar
Sem nenhuma substância
Dos poros exalar e pura e verdadeira alegria

Como o Cristo Redentor
Abrir os braços
O céu com alegria contemplar
Soltar a alta voz para quando este grito ecoar
Estremecer as densas nuvens
E quando a chuva cair
Assim como Gene Kelly
Sapatear pelas calçadas da cidade

As vitrines apenas cortejar
No utópico imaginario d'um mundo colorido
Em preto e branco
Clandestino
Entro no primeiro vagão
Não importa o seu destino
O importante é seguir o caminho
Que seja bem paulatino

No momento de saltar escondido
Continuar um anônimo
Prefiro que me conheçam pelo meu pseudônimo
Deixo que acreditem nas falácias
Sigo nesta minha razão
"Sem partido, sem religião"
Habito onde pratico meu hábito
Prático

Não tenho rotina
E assim eu navego
Só não é um barco sem leme
Neste fardo que eu carrego
Caminho de muralhas da China
Esperando o dia em que esta caia
Como os muros de Berlim
Numa vida de liberdade em qualquer cidade


"E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu." Atos 9:3


Wagner Pires
in, Roteiros e Uma Rotina