quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

DECLARAÇÃO DE GUERRA

foto by:
https://www.facebook.com/viagemdeguerra/photos/pb.761694630517035.-2207520000.1451599133./1009544672398695/?type=3&theater


Em estado de guerra
Verifico quem está ao meu redor
Fico conhecendo quem são meus inimigos
Os que restaram poderão ser aliados
Ou simplesmente em estado de neutralidade

Se me encontro na defensiva
Sou encurralado e oprimido
Preciso ir à ofensiva
Desbravar novo território
Desconhecido

A guerra é um período que causa dor
Teve o início previsto num final imprevisível
Com fome e dificuldades
Perdas, solidão
Cansado e desgastado

Em meio a rigoroso inverno
Escaldante verão
Os dias são longos
Não chegam ao fim
Em noites acordado, mal dormida

Luto pela minha liberdade e meu território
Derramando sangue
Escorrendo lágrimas
Abrindo feridas
Deixando cicatrizes

Se minha bandeira retornar dobrada em minha porta
É porque a morte foi uma recompensa
Por não desistir
Ou a conquista: uma recompensa
Hasteando a bandeira no mastro da minha vitória


Wagner Pires

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015

REINO DE MARVÃO



O reino dourado do rei João
Com sonhos prateados, viaja na sua imaginação
Rosto amarelo, pálido, muito assustado, estourou o rojão
Assina um decreto com o lápis roxo que está à sua mão
Mandou pintar o céu de azul para voar o avião
Apagar o cinza, porque é muita depressão
Laranja é cor, é fruta é o sol na imensidão
O vermelho pulsa o coração
No jardim do castelo brota o rosa do botão
E no marrom, joga-se bola lá no terrão
Caramelo é o nome do seu cão, valente como um leão
Preto e branco: seu irmão
O rei adora se vestir de verde limão para chamar a atenção
Desfilando com Violeta, a rainha, sua paixão
Morena bronze, cor do verão
Montando Turqueza, égua veloz como um furacão
História desenhada e rabiscada em grafite o lápis de carvão
Uma caixa de colorido lápis num reino sempre em construção


por Wagner Pires, in Reino de Marvão para Colorir

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

FOTOGRAFIAS


No porta retrato outra fotografia
Fazendo companhia a outros acontecimentos
Negativos revelados revelam momentos
Do dia a dia do COTIDIANO
São contos sem legendas
Com início e sem um fim
Eterno percurso pela galeria de arte da vida

Arte de viver uma imaginação
Ao observar cada foto
Fazendo exercitar a mente
Puxar na memória o fato ocorrido
Geralmente por motivos felizes
Comemorações, lugares, pessoas, ocasiões...
Em viagens ou visitas, mudanças.....talvez

Mudanças aparentes provocadas pelo desgaste do tempo
Brota no coração o sentimento de saudade
Escorre uma lágrima, abro um sorriso
Lembranças do passado, esperança para o futuro
Impressão em preto e branco deste colorido mundo
Telas pendurados na parede, ou esculturas espalhadas pelos móveis
É o meu museu particular contando minha própria história


Wagner Pires

domingo, 8 de novembro de 2015

COMBOIO FORA DOS CARRIS


No banco, sentado na estação, aguardando meu embarque. Trem ainda parado, estacionado, pronto para levar-me sem destino por este mundo sem rumo e direção.

Desce a serra a caminho do litoral. Ambiente selvagem e cosmopolita. Na água só até a margem, brincar e correr na fina areia da praia. Rápida parada, rápida visita, de volta, me aguardem.

Subindo a serra, de volta à metrópole, a mesma correria de pessoas que se esbarram e ignoram, congestionamento em dias de sol nublado pela fumaça. Circulando de estação em estação para agilizar o crescimento, em desenvolvimento com o envolvimento, população que cresce e padece: já não tem mais os seis ou sete, já passa dos dez.

Novamente prefere descer através do nevoeiro da serra rumo às praias. Tempo ruim, trovoadas, chuvas e mal dá tempo para uma longa parada, apenas fazer um lanchinho. Lugar cheio de turistas, alguns em ônibus fretado para a farofada deixando um retrato lotado.

Inquieto, subindo ao ponto de partida, indecisão de um maluco turismo de idas e vindas, sem precisão e definição. Novamente a cidade já não é a mesma, outros ares, outras cores, com novas caras: cara de política, em formação e orientação, com capacidade de opinar e criticar; muita crítica. 

Personalidade de exigência devido a inteligência. Criou sua trilha sonora, carros sempre velozes, com presa acompanham esta musicalidade que segue sem idade. Faz o coração marcar o compasso na batida do som grave, fazendo jorrar combustível pelas veias. Cidade de duas paixões para muitas outras paixões.

Paixões impiedosas que trouxe desilusão. Mesmo assim segue seu rumo em prumo sobre os trilhos, firme sem descarrilhar. Contratempos que fazem atrasar a viagem, exigindo reparos e manutenção. Envelhecendo sem enferrujar, apenas reciclar, recriar, refazer, outra vez.

Refazendo a ideologia, na seriedade, compromisso, um brilho especial, limpeza com óleo, lustrado, atualização do sistema operacional, sempre atualizado, pontual. Controvérsias nas conversas. Funcional e eficaz. Planejava prosseguir num TGV atravessando as fronteiras.

Outros passageiros, nova rotinas, diferentes visitas. Percorrendo os caminhos do interior do Estado, mudando o estado de espírito. Aguerrido, valente e corajoso. Cidades cada vez mais distantes, entre grandes e pequenas prósperas, urbanas e rurais. Verificando o gado nos currais, conhecendo o desconhecido.

E por falar em desconhecido, navegou para algo nada, até então, parecido. Navegando em águas internacionais de diversos idiomas e alguns dialetos, seu lugar predileto. Assustador, intrigante, queria que fosse permanente. Romance após o romance interrompido, sofrido. Quase que ali, partiria para aposentadoria, viraria história de uma peça de museu retratada em poesias, prosas e crônicas. Algumas situações cômicas, outras dramáticas, a problemática.

Roteiros de uma rotina mal elaborada, itinerário mal planejado, pouco orquestrado. Restou atrelar um único vagão e voar ao passado. Pouco abastecido, carregando poucas bagagens, prosseguindo pelo mundo que ficou desconhecido.

Estradas não trafegáveis; sem recursos, sem manutenção, acabou a emoção. Ficou pesado, sobrecarregado, mesmo estando solitário sem passageiros e acompanhantes. Ia à frente a velha Maria Fumaça movida a vapor sujando, com o carvão, o rosto do condutor. Puxava o tender cheio de combustível para queimar na fornalha, jogado pela pá do assistente no árduo e solitário trabalho.

Com pouco vigor, cansado e agora enferrujado, segue nos trilhos, também enferrujados, sobre dormentes danificados; olhando no retrovisor para não perder o passado de vista. Atentando ao túnel que se aproxima, pouco iluminado, escuro, imprevisível caminho, perplexo com sonhos obscuros só restam lamentos. Com esperança, que ao final deste túnel, Maria Fumaça e seu reboque, reencontrem sossego num turismo de amor e alegria.


Wagner Pires

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

TROCADILHO

Castelo de São Jorge, Lisboa, Portugal - foto by Wagner Pires

Mente pensante, corpo cambaleante
O rosto envermelha de ira
Mesmo estando pronto, ainda pira
A leitura é nula, inútil
De fato, a atitude é fútil

À minha frente só observo estragos
Jogar-me à cama e ali ficarmos deitados
Sensações de maus tratos
Palavras jogadas aos porcos
Alimentos para alimentar, ficam nos charcos

Aflito coração pulsante
Apostando nesta vida para se abundante
Assustadora como um animal feroz e exuberante
Embriago-me de sonhos frustrante
Teimoso em não se revelar, inoperante

Poderia receber uma bondade
Por Divina vontade
Numa vida dourada em plena diversidade
Dum viajante itinerante em sua lealdade
De relato extravagante para sua posteridade

"...Tal conhecimento é maravilhoso demais e está além do meu alcance, é tão elevado que não o posso atingir..."
Salmo 139-6



Wagner Pires

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

TORRE DE VIGIA

Catedral da Sé, Lisboa Portugal - foto Wagner Pires



Mundo que muda
Mas a rotina continua muda
Solitário
Silêncio até no campanário

Cercado pela cerca
A mesma que protege a lerca
Em murcha e corroída alma
Por conflitos que tiraram a calma

Muda da murta plantada
Nem ao menos podada
Deixa a visão encoberta
Olhando pela janela entreaberta

Revela o fiasco
A espera do carrasco
Vendo os dias sendo contados a leste
Não dormem, vermes que causam a peste

O vento é fraco e não faz tocar o sino
Traz a chuva que contrasta o rosto cristalino
Tortura que leva à loucura
Puro acaso da mente pura

Ingenuidade em acreditar
Que o mundo lhe poderia mudar
Na mochila de roupa carrego apenas uma muda
E fico com minha palavra muda



"Ficarei no meu posto de sentinela e tomarei posição sobre a muralha; aguardarei para ver o que Ele me dirá e que resposta terei à minha queixa"
Habacuque 2:1 


Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

sábado, 10 de outubro de 2015

MUNDO, ENFIM



O vidente anuncia o fim do mundo, 
E neste caos sou um sobrevivente.
Tristeza?
Aparentemente.

Chamas explodem do vulcão em erupção,
Causa terremoto e muita destruição.
Tremor, espanto e temor.
As mãos trêmulas diante de tanto terror.
Tudo em ruínas, pagando propinas.

Arruinada, a sociedade clama por justiça.
Cidadãos desorganizados perante o crime organizado.
Onde está a política? 
Atrás das grades, ou atrás dos confrades.
Neste cenário precário, o pobre quer ser um nobre.
Necessitado, vira um bandido na cidade sem lei.

Rajadas atravessam a rua, acertam a mulher deitada e nua.
Alma desnuda, sem princípios
Seu egoísmo só procura seu benefício.
Ficou a cadavérica escultura na cidade impura.
Sem cultura, contaminada por mentes doentes.
Ondas invadem as vielas das favelas.
Quem pode, esconde-se nos becos das ruelas,
Mas o bico deve ficar calado
Para não se tornar mais um marcado.

Ir sem saber se poderá vir,
Virou mais uma vítima.
Nem ficam mais a derramar lágrimas.
Virou estatística.
Lágrimas de sangue pintou o asfalto do cruel assalto.
Agiu como um animal brutal.

Os direitos são desumanos: encarcera o trabalhador,
Camuflados debaixo dos panos.
Escondidos, amedrontados, os carros são blindados,
As janelas com grades em todas as partes.
A TV e seu sensacionalismo:
Pedofilia, estuprador; só pensa no pessimismo.

O discurso arrogante lhe garante um país lindo por natureza.
Mas isso lhe garante alguma beleza?
O país do futuro.
Destacava o slogam dos anos 70.
E ainda caminham em caminhos obscuros que a violência fomenta
Dizem que é um povo sorridente com alegria em meio à melancolia.
Pura hipocrisia.
Uma nação que não entra em guerra, porém uma máquina que emperra,

Tamanha é a violência sem nenhuma decência. 
Uma realidade, que na verdade, o transforma num sobrevivente
Quando desperta no sol nascente.
Ou não, se foi sucumbido, banido,
Num segundo, neste fim do mundo!



Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

terça-feira, 25 de agosto de 2015

COMPANHIA INSEPARÁVEL



Com você ao meu lado consigo falar, me comunicar,
Até mesmo sonhar e viajar.
Ir e vir, desde que eu queira partir,
Ou eu possa fugir e descontrair.
Neste universo sem fronteiras,
Atravesso todas as barreiras.

Para conhecer todo este mundo:
Beleza e alegria, também o lado imundo.
Precisamos estar informado.
Política, economia: estar conectado.
Às vezes eu nem entendo,
A civilização em detrimento.

Com tanta guerra e insegurança.
Você é a minha confiança.
Prefiro esquecer tudo isso,
Mas não viver sem compromisso.
É que prefiro o entretenimento
Diversão a cada momento.

Fotografias e imagens.
Muitos rostos e algumas paisagens.
Jogos e competição.
Quero vencer, ser o campeão.
A cada click, um toque, digitar,
No cotidiano: eu e você, meu celular.



"Outro dia, em quatro casais, saímos para almoçar numa cantina italiana.
Sentados, aguardando nossos pratos, apenas eu não estava digitando no celular....
Quem era o anormal?
Neste mundo virtual, está acabando o relacionamento interpessoal."

Wagner Pires

domingo, 2 de agosto de 2015

SOU VÍTIMA DAS MINHAS ATITUDES


           Embarquei, peguei o avião com destino ao passado. Passado mal resolvido.
          Cheguei, desarrumei as malas e vi que havia me esquecido de trazer minha individualidade e minha liberdade.
          Depois de alguns dias é que fui perceber que mexeram na minha bagagem e a minha paz havia sido roubada.
          Também pudera, apesar da minha idade já um pouco avançada, vivido, experiente com tantas idas e vindas do COTIDIANO, fui ingênuo, tremendamente inocente em acreditar que poderia ter a família e amigos de volta.
          Ah sim, claro, enfiei a mão nos bolsos: onde deixei minha carteira?
          Não tinha, apenas documentos e lembranças. Muitas histórias para ninguém ouvir. Ninguém vive de ouvir histórias, vivem de passeios em carrões, conforto em belas casas com repletos jantares.
          Em pouquíssimo tempo perdi até mesmo os equipamentos que de lá eu trouxe. Até eles ficaram cansados e resolveram não mais funcionar, morreram, nos deixaram.
          Morreram juntamento com os sentimentos de alegria e felicidade, restou tristeza, solidão, falta de esperança. Rotina de trabalho, enfadonho trabalho. Esforço em vão, sem nada conseguir.
          Tempos difíceis.
          Enquanto que do outro lado do Atlântico eu abandonei a praia, o verão, muito lazer e diversão. Diversificação: parques, montanhas e castelos, ruínas e história, modernidade e cultura, cinema e teatro, gastronomia, farta gastronomia. Respeito e admiração, amizades, companhias e solidariedade.
          Meu fiel companheiro, meu filho, perdeu em qualidade. Não ele, mas a qualidade que o lugar possa oferecer: saúde, educação, entre tantas outras.
          Perdeu o convívio natural com os amigos, restando o virtual. Crescendo em seu limitado espaço, onde perdeu o seu espaço da sua principal característica: descontração, improvisação, sorriso no rosto. Não perdeu o carinho e respeito. amoroso, paciente.
          Tendo que acostumar-se com a rotina protocolar de uma sistemática burocrática e banal.
          Em cada passo, cada caminhar, cada lugar, fui deixando para trás os sonhos. Olho para trás e vejo lembranças, maravilhosas lembranças. Enquanto olho para a frente e vejo escuridão.
          Não posso culpar os discursos enganadores, falsas promessas, palavras mentirosas, propostas ilusórias. Fiz as escolhas, tomei as atitudes.
          E quanta decepção.
          Resta-me acordar nas madrugadas e lamentar, tentar encontrar uma solução, uma saída deste labirinto, um túnel sem fim., onde cresce um vírus do desânimo que alimenta a depressão que vai apagando do quadro o giz que escreveu uma história de comunhão, tornando em desconfiança e falta de fé; ficando apenas num quadro negro.
          Obscuro.
          Tudo isso só faz viver dentro de mim uma saudade, enchendo de ar como um balão prestes a explodir como no Big Bang querendo iniciar um novo mundo, uma nova vida à procura do seu sol para que ao seu redor possa orbitar!

"...o sol da justiça se levantará trazendo cura em suas asas. E vocês sairão e saltarão como bezerros soltos no curral..."
(Malaquias 4:2)


Wagner Pires

sexta-feira, 24 de julho de 2015

GERAÇÃO ZUMBI

(fonte da imagem: https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mira-regis/a-burrice-reinante-na-musica-brasileira-realmente-183901284.html?linkId=15760410)

Sociedade é um reflexo da política, assim como a política é um reflexo da sociedade!
Difícil de entender?
Difícil de explicar?
Uma sociedade não é formada nas escolas, ou pelos políticos que nós colocamos no poder e que gerem estas escolas.
Uma sociedade tem início dentro de casa,e stende-se por toda a família e comunicade ao redor (trabalho, escola, bairro, amigos...).
mas aí é que surge o problema.
Qual o conceito de família e comunidade que temos vivido hoje?
O individualismo: o interesse pessoal e daqueles que o cercam - beneficiar-se a despeito de qualquer coisa.
Não se tem noção do verdadeiro significado de família.
Quem é sua família?
Aquele que pode te oferecer algo.
O que é sociedade?
A sociedade está sendo orientada pela mídia, e isto não é um discurso anti global.
É a grande mídia manipuladora formando a mentalidade social com seus usos e costumes, ditando as regras da moda atual, ditando os discursos politicamente correto, os que pensam diferente estão fora desta sociedade.
O que deveria ser utilizado para o bem é um ótimo instrumento para a massificação: o isolamento devido às tecnologias.
O problema da cultura brasileira vai além, mas muito além da cultura musical atual. Basta verificar a qualidade sócio-educacional que nós vemos na programação das TVs abertas: jornalismo sensacionalista, teledramaturgia banal descaracterizando o ser humano e a sociedade, reality shows, o esporte corrupto e corruptível que gera grandes receitas, humor depreciatível, entre outros.
Não adianta pedir, ou pensar, na volta do regime militar para trazer de volta sua dura, rígida e intolerante educação, pois eles são a origem de todos os males sócio-econômico-cultural.
Eles agiam, escondiam e não permitiam que seus feitos corruptos fossem revelados. O que é bem pior da situação atual, hoje continuam roubando, mas somos conhecedores dos fatos.
A solução está em cada um abrir os olhos e ter uma mente capaz de absorver as informações com a capacidade de discordar e opinar com caráter e uma visão honesta.


Wagner Pires


HISTÓRIAS E LEMBRANÇAS


quinta-feira, 11 de junho de 2015

ASAS DA CRIAÇÃO




Rebentaram do casulo
Feito uma larva
Colorida entre as folhas, camuflada
Que fazem saltar às flores
Beleza discreta voa com leveza
Quase invisível procurando alimento e abrigo

Voo mais alto
De polo a polo, costa a costa
Solitário e veloz de olhar astuto
À espreita pela presa
Repousa sobre as copas das árvores
Para esconder-se no ninho nas montanhas

Correndo até a beira do abismo
Carregando sua asa
Saltando, conduzido pelo vento
Sentindo-o bater ao rosto
Liberto como a ave
Para aterrizar em praia de areia firme

Conhecendo todas as terras como um turista
Cortando as nuvens
Deixando seu gélido rastro
Por sobre os oceanos
O mundo se transforma em alguns segundos
Muitos povos de várias línguas

Transportado pela explosão do foguete
Vendo a Terra azul de cabeça para baixo
Observando-a como o Criador a sua criação
Flutuante sem gravidade
Uma vida que ainda é um sonho distante
Morar no limite do infinito

Deste infinito que transporta substâncias
Vem sem destino para lugar nenhum
Até onde possa se chocar
Numa bola de fogo de destruição
Transformar-se em vida
Como larvas surgindo do seu casulo!


Wagner Pires
in, Roteiros de Uma rotina

segunda-feira, 1 de junho de 2015

CIDADE




As luzes piscam e a cidade sempre em movimento. Caminham, passos, alguns apressados, circulam carros. Outros em duas rodas: motorizados e motivados - motivados a pedalar e exercitar. O farol se abre pessoas de um lado para o outro, de um lado para outro. Multidão, se esbarram, se empurram, mas nem se tocam, não se olham: atarefados, preocupados, desinteressados. O rapaz ainda tenta trocar um olhar que não é correspondido, ainda tenta mais uma vez olhando para trás, olha para a bunda. "Rapaz, olha o desrespeito, não confunda". Ela segue seu trajeto sem ao menos se incomodar. Ambulantes vendem seus pertences. Camelôs, engraxates e jornaleiros são os únicos imóveis vendo tudo se movimentar. Lá e cá o pregador, segurando a Bíblia na mão, grita palavras de fé para que alguém as ouça, procurando o arrependido, faminto, desesperado. Nem os gritos conseguem acordar o morador das calçadas, pouco aquecido com o velho cobertor, alguns dormem entorpecidos, perturbado, seu fiel cão acomodado ao seu lado. Cenário perturbador, imensa dor. O barulho é intenso, tenso, irritante, assustador. Assustado com as sirenes o cidadão procura em movimentos. A viatura passa devagar, observando, à procura da crise, do crime, ronda, ninguém está seguro. Nem mesmo do próprio policial corrupto, violento, stressado, mal remunerado, julgado e condenado pela organização criminal. Os vidros blindados, fachadas fechadas: o calor é frio e insensível, o cidadão se torna um invisível. Noites frias iluminadas por neon são aquecidas pelo álcool, movimentada e agitada madrugada, não para, música em alto som: carros, bares, baladas. Frisson, ninguém dorme, nem ao menos o cansado trabalhador. A adrenalina consome: banalidade, futilidade, sexo, drogas, tudo é diversão. Quando acordam, realidade, depressão: trabalho, política, economia. Veem as notícias nos jornais, telejornais, internet em seus celulares: metrô lotado, ônibus apertado, mulheres se protegendo do doente masturbador. Até o inocente se sente culpado na pressão nesta louca cidade. As crianças seguem a rotina para a educação que não tem refletido na cultura social. Culpam a corrupção. Onde está o corruptor? Ganância pelo poder que leva à soberba, só ostentam riqueza. Consumismo sem pensarem nas consequências quando tiverem que pagar as faturas, outras falcatruas. E, em busca de solução, correm para o trabalho na cidade que continua circulando em movimentos apressados sem se preocupar com o calendário. As luzes vão piscando nesta cidade que vai se movimentando, uns correndo, outros caminhando, sem se incomodarem em olhar para todos os lados!


“O que o homem ganha com todo o seu trabalho em que tanto se esforça debaixo do Sol? Gerações vêm, e gerações vão, mas a terra permanece para sempre. O Sol se levante e o Sol se põe, e depressa volta ao lugar de onde se levanta.”

Eclesiastes 1:3-5


Wagner Pires
in, Roteiros de Uma Rotina

domingo, 31 de maio de 2015

DÊ PRESSÃO


Crises do COTIDIANO
Separação, contendas, confusão,
Desemprego, sem apego, sem dinheiro.

O mundo físico afeta o psíquico,
Alma doente, carente, solidão.
Não escolhe raça ou sexo,
Rico ou pobre.
Levando uma vida sem nexo.
Deixa feridas no corpo
E cicatrizes na alma.

Um cárcere encarcerado por si.
Aplica as suas leis e suas razões.
Não aceita divergências nem opiniões.
Fecha-se no seu próprio mundo.
E o mundo fecha-se para ele:
O pessimista na roda de amigos,
O rabugento nos encontros de família.
"Só quer atenção, frescura, loucura".
Não, precisa de cura.
Um medicamento para que possa dormir,
Um ouvido para lhe ouvir.

Transtornado e apavorado,
A noite chega e não consegue dormir,
Tem medo de não acordar.
Encolhido, afligido, trancado.
Rola na cama para todos os lados.
Liga a TV, se agarra ao celular, desliga o PC,
Não para de pensar,
Somar, calcular, sonhar sem raciocinar.
Tentando achar os motivos, tentando achar os culpados.
Fica cada vez tudo mais ofuscado.
Finalmente a mente se apaga.

Mas amanhece e não quer acordar.
Para que trabalhar?
Só lhe resta chorar e lamentar.
Querer fugir desta prisão.
Libertar-se desta situação.
Que está conduzindo à destruição.
Problema sem solução.
Não enxerga uma simples resolução.

Doente, demente, inconsequente.
A beira do abismo, um suicídio.
Querer começar tudo de novo,
Voltar ao princípio.
Nascer para uma nova vida.
Apertar o botão de partida.
Sair em correria
Sem olhar para traz.
Fugir desta gaiola para um voo sagaz!


“Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou: Você quer ser curado?.....Levanta-se! Pegue sua cama e ande.”

João 5:6-8


Wagner Pires
in, Roteiros de Uma Rotina