domingo, 8 de novembro de 2015

COMBOIO FORA DOS CARRIS


No banco, sentado na estação, aguardando meu embarque. Trem ainda parado, estacionado, pronto para levar-me sem destino por este mundo sem rumo e direção.

Desce a serra a caminho do litoral. Ambiente selvagem e cosmopolita. Na água só até a margem, brincar e correr na fina areia da praia. Rápida parada, rápida visita, de volta, me aguardem.

Subindo a serra, de volta à metrópole, a mesma correria de pessoas que se esbarram e ignoram, congestionamento em dias de sol nublado pela fumaça. Circulando de estação em estação para agilizar o crescimento, em desenvolvimento com o envolvimento, população que cresce e padece: já não tem mais os seis ou sete, já passa dos dez.

Novamente prefere descer através do nevoeiro da serra rumo às praias. Tempo ruim, trovoadas, chuvas e mal dá tempo para uma longa parada, apenas fazer um lanchinho. Lugar cheio de turistas, alguns em ônibus fretado para a farofada deixando um retrato lotado.

Inquieto, subindo ao ponto de partida, indecisão de um maluco turismo de idas e vindas, sem precisão e definição. Novamente a cidade já não é a mesma, outros ares, outras cores, com novas caras: cara de política, em formação e orientação, com capacidade de opinar e criticar; muita crítica. 

Personalidade de exigência devido a inteligência. Criou sua trilha sonora, carros sempre velozes, com presa acompanham esta musicalidade que segue sem idade. Faz o coração marcar o compasso na batida do som grave, fazendo jorrar combustível pelas veias. Cidade de duas paixões para muitas outras paixões.

Paixões impiedosas que trouxe desilusão. Mesmo assim segue seu rumo em prumo sobre os trilhos, firme sem descarrilhar. Contratempos que fazem atrasar a viagem, exigindo reparos e manutenção. Envelhecendo sem enferrujar, apenas reciclar, recriar, refazer, outra vez.

Refazendo a ideologia, na seriedade, compromisso, um brilho especial, limpeza com óleo, lustrado, atualização do sistema operacional, sempre atualizado, pontual. Controvérsias nas conversas. Funcional e eficaz. Planejava prosseguir num TGV atravessando as fronteiras.

Outros passageiros, nova rotinas, diferentes visitas. Percorrendo os caminhos do interior do Estado, mudando o estado de espírito. Aguerrido, valente e corajoso. Cidades cada vez mais distantes, entre grandes e pequenas prósperas, urbanas e rurais. Verificando o gado nos currais, conhecendo o desconhecido.

E por falar em desconhecido, navegou para algo nada, até então, parecido. Navegando em águas internacionais de diversos idiomas e alguns dialetos, seu lugar predileto. Assustador, intrigante, queria que fosse permanente. Romance após o romance interrompido, sofrido. Quase que ali, partiria para aposentadoria, viraria história de uma peça de museu retratada em poesias, prosas e crônicas. Algumas situações cômicas, outras dramáticas, a problemática.

Roteiros de uma rotina mal elaborada, itinerário mal planejado, pouco orquestrado. Restou atrelar um único vagão e voar ao passado. Pouco abastecido, carregando poucas bagagens, prosseguindo pelo mundo que ficou desconhecido.

Estradas não trafegáveis; sem recursos, sem manutenção, acabou a emoção. Ficou pesado, sobrecarregado, mesmo estando solitário sem passageiros e acompanhantes. Ia à frente a velha Maria Fumaça movida a vapor sujando, com o carvão, o rosto do condutor. Puxava o tender cheio de combustível para queimar na fornalha, jogado pela pá do assistente no árduo e solitário trabalho.

Com pouco vigor, cansado e agora enferrujado, segue nos trilhos, também enferrujados, sobre dormentes danificados; olhando no retrovisor para não perder o passado de vista. Atentando ao túnel que se aproxima, pouco iluminado, escuro, imprevisível caminho, perplexo com sonhos obscuros só restam lamentos. Com esperança, que ao final deste túnel, Maria Fumaça e seu reboque, reencontrem sossego num turismo de amor e alegria.


Wagner Pires

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