sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A CASA ABANDONADA





          Cortinas caídas balançam ao vento. Nas janelas, os vidros
partidos, pendurados, cortantes. Afiados, prontos para ferir. Línguas
afiadas, ferindo.
          Portas e janelas rangendo, parecem Hitchcock em seus filmes de suspense. As decisões paradas, ficaram todas suspensas. Range os dentes,
de ira.
          Com roupas largadas, jogadas aos cantos. E o canto que se entoa é de amargura. Palavras amargas de agressão e opressão; espanta quem pela casa passa, e fica ainda mais solitária.
          Jogado no velho colchão, fico adormecido no sofá partido. Sonho perdido, igualmente ao animal esquecido. Idoso, o ainda fiel companheiro. Enfermo, até a morte chegar, enrolado e aquecido pelo desbotado cobertor, fica em algures na sala.
          Teias nas paredes, reboques caem. O ânimo cai em sua companhia. Paredes que carregam as marcas do tempo: escuras do suor das mãos de quem ali passava. Na agitada casa, de lembranças e lambanças, estendem-se as teias do descaso, a poeira na solidão.
          Assustador gotejar das torneiras e o piscar das luzes. Cenário deterror. Horrorizado pelas fatos.
          Panelas deixadas sobre o fogão. Gorduras ficaram escorridas pelochão. Todos saíram em disparada. Um disparate, fugitivos deixaram rastrospela confusão.
          Casa abandonada em seus problemas. Esquecida pelas contendas e divergências. Assombrada pelos fantasmas do desrespeito. Morta nos
pecados sem relatos.
          À espera da volta dos moradores, seus mercadores. E sem emoção, fica a comoção pela destruição. E a idade avança. Um dilema que vem de anos, e que me cansa.
          Casa movimentada, porém abandonada.


"Melhor é serem dois do que um, porque tem melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro ajuda seu companheiro..." Eclesiastes 4:9-10a


por Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho, Dec 26th, 2014


Nenhum comentário: