quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

EM CONTRAPONTO


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É quase 24. 24 horas do dia 24.
Já estouram os rojões no céu, e ouço rajadas de balas na comunidade.
Balas distribuídas pelo velhote de vestes vermelhas nos centros comerciais.
Vestes manchadas de vermelho corre aos gritos.
Diferentes melodias que confundem.
Uma sobrepõe à outra.

É quase 24. 24 horas por dia as luzes ficam piscando em decorações enfeitadas.
As luzes piscam, subindo e descendo do morro em alta velocidade 24 horas de todo o ano.
Diferentes cores em diferentes cenários que não se misturam.
Mesa farta e abundante, onde deixam cair as migalhas.
Na mesa que falta muito, ainda falta o chefe de família, ou o irmão mais velho, ou a tia desaparecida.
Confraternizam com migalhas.

24 horas de uma barriga farta. 24 horas de uma barriga em que o alimento falta.
Junta as moedinhas para comprar uma peça nova no camelô da baixada.
Alinhados para celebrarem a grande ceia, anseiam chegar a hora para abrirem os pacotes.
Presentes diferentes, sonhos opostos, vidas incomum, caminhos em comum.
Abre o sorriso ao abrir o pequenino embrulho: as chaves do carro novo.
Apressadamente rasga o papel da enorme caixa: um humilde carrinho de plástico, e o sorriso se estampa.

24 horas depois já é outro dia, de volta a velha rotina.
Lados contrários da mesma cidade contando os dias para a festa, é carnaval.
Sempre se cruzando: um na arquibancada, outro na passarela
Se cruzam nos faróis pelas esquinas, vidros fechados, só queria uns trocados.
No ritmo da batida do COTIDIANO, melodia em contraponto.
Vidas em contrassenso.




Wagner Pires
in, Roteiros de Uma Rotina

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