sexta-feira, 24 de junho de 2022

FLUME

fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nanshi_River_near_Lahao_Dam.jpg


Rios de janeiro a dezembro caminham e não se cansam.
Trabalham da nascente até a sua foz.
Desbravam matas, açoitam barrancos, perfuram rochas.
Irrigam a terra para produzir alimentos e, ele mesmo nos alimenta.
Matam nossa sede, refrescam nossa alma, limpam nossas impurezas.

Torrente ligeira, apressada. Uma vida curta, levada pela enxurrada.
Ribeirão sossegado que pode esconder muitas riquezas.
Uma lágrima escorrida do rosto da terra é um arroio, quase uma água parada.
Das alturas do planalto caiu sobre a planície pelo desfiladeiro.
Nas corredeiras muita adrenalina.

Rios límpidos e cristalinos, sem frescura com muito frescor e nada para 
esconder.
Peixes a nadarem, embarcações a navegarem.
Trafegando por ele sente-se a brisa e a pureza, cheiro da natureza.
Sua voz forte e segura quando despenca das alturas e proporciona quedas
- uma beleza.
Imagens para serem registradas - traz recordações.

Lembranças e memórias de fatos.
E de fato os rios na Europa são cercados de vida às suas margens.
Vida 24 horas por dia, um boêmio que não descansa.
Casais apaixonados, idosos aposentados, barcos para todos os lados.
Não sossegam nem no rigoroso inverno, apesar da superfície congelante.

Ah, o mal tratado rio da cidade de São Paulo. Doente, carente.
Tráfego apressado às suas margens. Trânsito poluente.
Necessita de carinho e atenção, limpeza, proteção e fiscalização.
Um rio que não serve para quase nada; sem vida, sem vigor...triste cenário.
Caminha desanimado aguardando a chegada na estuário.

Rios barrentos, pesados, semblante triste. Solitários.
Outros receptivos, que abraçam e acolhem outros rios em seus afluentes.
Abundante rio.
Rios que se fartam e transbordam quando a chuva é
demasiada.
Explodem para todos os lados para aliviar a tensão. Não colapsar, não
enfartar.
Sobe e desce, inconstância do leito, inconstância da vida.

Rio morto é aquela lagoa que não se move.
Sem sentimento, sem companhia, exala um mal cheiro.
Escondida atrás dos altos arbustos.
Ninguém a observa, não observa ninguém.
Água parada nada produz. Não segue para lugar algum.
Sem perspectiva, tímida; cada vez mais introspectiva.
Somem os peixes, some a alegria.

Incertezas do COTIDIANO, com a certeza do futuro: todo rio ao oceano
chegará.
Seja por caminhos alegres e festivos, desaguando diretamente no oceano.
Seja no encontro ao outro rio. Juntos caminham até o destino.
Ou, evaporado pelo intenso calor. Sobe direto ao céu para retornar como
chuva.
Pior, quando é soterrado para transformar-se em uma via.

Como disse o poeta: "foi um rio que passou em minha vida".
E meu coração por ele veleja, os rios em que meu rio navega.
Brota da nascente, expelido para seguir uma trilha desconhecida.
Acumulando resíduos, acolhendo vidas, recebendo outros rios.
Carregando fardos.
Trabalho incessantemente intenso.
Produzindo sementes como herança até descansar ao chegar ao mar.


"E mediu mais mil (côvados), e era um rio, que eu não podia atravessar, porque as águas eram profundas...e junto ao rio, à sua margem, de um e de outro lado, nascerá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer; não cairá a sua folha, nem acabará o seu fruto; nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário; e o seu fruto servirá de comida e a sua folha de remédio."Ezequiel 47:5-12


por Wagner Pires
in, Roteiros de Uma Rotina 




 

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto lindo, sublime e profundo, como um vasto rio!!👏👏👏

Anônimo disse...

👏👏