domingo, 2 de agosto de 2020

AZÁFAMA



        Ah, o silêncio e o sossego de um final de semana em que meu filho foi viajar e eu me encontro sozinho.
        Madrugada de sábado para domingo, até as 5 horas, talvez, nem sei, sem sono, pensativo, e o entediante pancadão na esquina com o som que vem d'um botequinho.
        7 horas da manhã e eu ainda bem desperto, acordado e, do lado esquerdo da minha casa, já ouço em altíssimo volume a sofrência do estilo sertanejo, um nojo, que vem do vizinho.
        As horas passam rapidamente, já são 10 horas, aproveito e me preparo para ligar a TV e assistir ao GP da Inglaterra de F1, torcendo por mais uma vitória de Hamilton. Em frente de casa já começa a rotina de confusão: muito palavrão, gritaria, agressão, uma baixaria. Ameaças, sempre esta mesma arruaça entre o casal e seus pequenos quatro filhos. O outro vizinho.
        Quase hora do almoço e as bicicletas a rodarem: de lá para cá, de lá para cá..... e mais gritaria; muito barulho: brinquedos jogados, marteladas, pauladas, pessoas desnorteadas..... bolas a saltarem - na casa de cima, agora são os filhos do meu sobrinho.
        Feijoada e pagode ao vivo, batucada, desafinado. Talvez o cantor esteja empanzinado. Carros para todos os lados, copos na rua são jogados. Risos, falatórios, sempre o mesmo repertório. Tudo isto em meio à pandemia, na Prainha, o outro barzinho.
        Entregadores de aplicativos em alta velocidade, irritante. Escapamentos adulterados, condutores alterados, o dia todo em todos os dias é este mesmo burburinho.
        Por falar em feijoada, me deu fome, vou preparar o almoço, já são 14 horas, farei um saboroso arroz, uma carne grelhada e uma vinagrete para rechear uma salada de feijão fradinho.
        Em meio a tudo, mudei de ideia, para acompanhar o grelhado preferi colocar uns legumes a saltear e..... acaba o gás enquanto eu cozinho.
        As horas passaram, botijão de gás finalmente trocado, almocei, cozinha limpa e organizada, momento de relaxar, hora de assistir ao futebol, tento me distrair, mas o jogo é muito ruim - eh Corinthians, com todo o meu cansaço, acabo dormindo com este futebolzinho.
        Despertei com o cair da noite com o chiado e o brilho da TV. Gostaria de poder acordar ao cantarolar de um passarinho.
        Mas não, nem pardal, nem tico-tico, nenhum nem pequenino. Moro perto de um pequeno aeroporto e, num fim de domingo, sobre minha casa só voa teco-teco e jatinho.
        E, para aturar tudo isso, só mesmo me embriagando. Me embriagar no suave sabor do tinto vinho.
        Um final de semana tão perturbador como se fosse uma tempestade descendo sobre mim como num torvelinho.
        Um destruidor redemoinho.
        Pensativo, reflito nesta ausência de compreensão e carinho.
        Egoísmo e narcisismo deste mundo mesquinho.
        Quem me dera poder desfrutar de uma paz e liberdade neste meu cantinho.
        Poderia estar onde gostaria de estar: no sossego à beira do rio Tejo vendo o sol de pôr. Admirar o horizonte e quem sabe até poder apreciar o nadar e o saltitar de um golfinho.
        Porém, enquanto isto não passa de um desejoso sonho e vontade, na minha ansiedade, vou relatando estes verdadeiros fatos do COTIDIANO neste meu pergaminho.
        Enfim, independente dos ocorridos, o que devo fazer é seguir neste meu caminho.
        Transformando e descrevendo em contos este meu espinho.
        O silêncio que diz mais do que mil palavras, por favor; no bom mineirês: só um "cadim"!




Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

Nenhum comentário: