sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

RELIGIÃO - O MAL QUE EU TEMO

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O que é a religião senão fábulas, lendas e mitos criadas do perverso imaginário do homem para reprimir a sua existência.


A religião é um cabresto para impedir que as pessoas tenham uma visão de si mesma e do mundo, que caminhem com suas próprias pernas.
Inibe este caminhar não tomando o rumo pela sua consciência.
Controlando o pensamento, o falar, discutir e, principalmente, o discordar.
Aliás, quando se discorda e divergem, criam-se novas e inúteis denominações religiosas.


O clérigo de toda e qualquer religião nasceu e se estabeleceu à sombra de líderes: imperadores, reis e governantes. Escondem, nestas sombras, os seus malignos pecados.


Com uma falsa ideia de viver em paz inventaram um Deus e sua religião, prometem um paraíso e ameaçam com um inferno. Mas a religião só causa guerra, morte, divisão e destruição.


Não há nada tão primitivo como liturgias de cultos a deuses que se praticam oferendas. Usos de vestimentas carnavalescas. Tudo para justificar uma fé.


A profissão político não deveria existir, assim como o religioso.
Ambos criaram-se com o mesmo objetivo: enganar para controlar e lucrar.
Para ser político deveria ser apenas uma vocação. Porém, não temos necessidade de um religioso .





por Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto

domingo, 10 de novembro de 2024

O BOM DO BRASIL É QUE NÃO TEM GUERRA

         
incêndio no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, 2018



          Interreses pelo poder e dinheiro, para conquistar terras, dominar territórios e explorar a comunidade. Corrupção: corrupto e corruptor - subjulgar.

         Tráfico de armas, de drogas, agiotagem, lavagem de dinheiro, prostituição. Milícias e o crime organizado. O Estado em guerra.

          Assassinatos. Mortes sem precedentes, mortes sem verificarem os antecedentes. Tiros dos dois lados: sem saber se o bandido é mocinho, se o mocinho é também um bandido.

         Crimes à luz do dia, à luz das câmeras. Expostos nos noticiários, mas ninguém mais fica abalado, virou uma rotina. Crimes encobertos porque pagaram propina. Terra sem lei, ou melhor, leis que não são cumpridas.

         Bandido se elege. Eleito que vira bandido. Eleito patrocinado por bandido. Bandido que mesmo inelegível arrasta apoiadores adoradores. Exaltado como um deus. Este é um dos problemas: a fé.

         A comunicação da guerra passa pelos altares, pelos púlpitos, pelos plenários, inflando a mente doente de uma população de cultura carente. A guerra destrói a história do seu povo.

         A falta de cultura vem desde lá de trás. Desde o descobrimento? Desde a implantação da República? Desde os anos 50, 60, 70, e vem piorando com a geração Millenium, X, Y, sei lá mais o que?

         Na guerra não há cultura porque não há educação. Sem conhecimento, sem sabedoria, sem entendimento, sem atitude, sem vontade de mudança. Apostasia.

         Aliás, durante a guerra não há luz, água, esgoto, transporte, segurança pública, boa moradia, boa qualidade de vida.

         Na guerra, os hospitais estão lotados: sem atendimento, sem agenda, sem qualidade.

         Caos, destruição, lixo, sujeira, doenças, endemias, epidemias.

         Inflação, desemprego, sub-emprego. exploração.

         Não tem lazer, não tem viagem, não tem descanso, só enfado e cansaço - estress.

         Não tem dinheiro, não tem comida, não tem paz - ilusão.

         A esperança é na inútil fé na religião, no inútil mito, herói, ídolo.

         Na guerra impera o nacionalismo, patriotismo, o ufanismo exacerbado.

         Idealizada e comandada pelos poderosos, lutada pelos mais desprovidos.

         Numa vida de lutas, lutam apenas para sobreviver.




por Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

O MENINO DO QUARTO VAZIO - UM CONTO



- Luisinho, vai ao mercadinho comprar umas coisas para a mãe!

- Ah, mãe, tem que ser eu? Sempre eu?

Lá vem um caminhão, eu vou correr mais rápido do que ele, eu sou muito rápido. Vamos ver quem chega à esquina primeiro.
Ufa, hoje eu quase ganhei.
Por falar em ganhar, vou furar naquele jogo para ver se desta vez cai uma bolinha colorida, eu nunca ganhei um prêmio.

Não queria ir à escola hoje, não gosto de lá, os meninos ficam rindo de mim só porque sou pequenininho e tímido.
A professora nem liga, aliás, outro dia até ela riu de mim. Só porque eu fiquei nervoso por estar envergonhado.
E ainda chamou minha mãe na diretoria, disse que eu precisava de um tratamento médico.
Eu não ligo, fico quietinho, assim eu vou aprendendo, gosto muito de fazer contas, escrever histórias e conhecer histórias do mundo, também. Gosto de conhecer o mundo pelo atlas, ver jornais e revistas. E gosto de desenhar.

Está chegando o mês de junho, será que eu vou poder dançar quadrilha na festa junina com a Mara? Ela é muito linda.
No ano passado eu queria ter ficado com a Kátia, mas ela nem quis. Vou falar com o Cabeção, ele é meu amigo.

Lá vem aquele meu tio chato, só compra doces para meu irmão e meu primo. Ele tem um cheiro ruim, um cheiro de pinga. Igual ao bafo do meu pai quando briga com a minha mãe, cheiro de cerveja. Nestes dias ele quebra tudo em casa.
Outro dia eu o ajudei, comecei a chorar e gritar pela minha mãe quando ele estava com a boca no fogão, já estava quase desmaiando, pálido.
Minha mãe deu uma dura nele e contou tudo para a minha avó.

No final de semana eu, meu irmão e meus primos vamos jogar bola na rua de novo, não vejo a hora de podermos disputar com os meninos da outra rua. Nosso time é muito bom, eu sou o mais velho, sou o capitão, o artilheiro.
Mas eles ficam bravos comigo porque eu gosto de driblar todos e fazer muita graça com a bola.
Meu outro amigo, o Sérgio, é nosso goleiro. Claro, é o maior de todos. Ninguém faz gol nele.
No campeonato da escola, eu fui o último a ser escolhido, só por causa do meu porte: baixinho, magricela, e no jogo se surpreenderam, ninguém passava por mim, e ainda fiz o gol da vitória. Ganhamos do time que era considerado o melhor da sala. Passamos para a próxima fase.

Já não somos mais as crianças do primário, estamos em nova escola. O aluno mais popular é o Goiaba, e como eu sou o menor de todos, ele diz que eu sou o seu filho, o Goiabinha.
Como ele conhece muitas meninas, elas também são minhas amigas. Na aula de educação física a gente estava correndo pela quadra, uma delas falou que eu sou uma gracinha.

Com os amigos da rua, continuamos nas partidas de futebol, não gostamos de ficar empinando pipa.
Gostamos de jogar futebol de botão.
Eu organizo um campeonato só meu. Vou para o quarto de bagunça, ligo a vitrola Delta, azul calcinha, na rário Excelcior AM e fico ouvindo músicas de discoteca enquanto jogo as partidas de botão.
Quando canso de jogar botão eu vou desenhar personagens de quadrinhos, tem vários desenhos, encheu uma parede inteira de ponta a ponta, de cima a baixo. Minha mãe fica orgulhosa com meu talento para desenhar. Minha irmã pega meus desenhos para colorir.
Eu não gosto, prefiro que fique apenas nos rabiscos, em preto e brando.
Meu mundo em preto e branco.

Futebol, desenhar, ouvir música, as coisas que eu mais gosto.
Apesar que tem uma outra paixão, automobilismo, todos os domingos pela manhã fico esperando começar a Fórmula 1. Quero crescer e comprar o meu carro, conheço todas as marcas e modelos. Quando junto umas moedas do troco das compras que eu faço para a minha mãe, eu compro a revista Quatro Rodas só para ver os carros.

Este mês terá o Salão do Automóvel, vou sair sozinho pela primeira vez com um amigo, o Alexandre, mora lá no bairro ao lado do meu.
Vamos a tarde e só voltaremos na hora de fechar.

Gostei da ideia de sair a noite com amigos, passear, conhecer lugares e pessoas, quem sabe eu arrumo uma namorada.
Vou com minha irmã na discoteca, como eu amo música, tenho certeza que vou me divertir.

Uma pena, não me diverti. Esta minha timidez me bloqueia, não consegui dançar, nem conhecer ninguém, fiquei como um bobão sentado no sofá só ouvindo as músicas.
Bom, pelo menos isto eu pude curtir: todas as músicas. Algumas que eu nunca tinha escutado na rádio.
Achei sensacional o jogo de luzes sincronizado com as músicas.
Uma que me marcou foi Prince - I Wanna Be Your Lover, que louco quando chega no drop e fica apenas o instrumental e a iluminação sob pista e a estrela do teto no mesmo ritmo.
Isto me fez viajar, sonhar, querer ser um DJ.

A multidão lá em baixo, na pista de dança, quase 2 mil pessoas olhando para mim na cabine de som comandando a festa, fazendo virada nos tocas discos, brincando com o microfone, agitando a galera, foi a cura para minha timidez.
Conhecer garotas, ser conhecido, ter amigos, ser admirado, respeitado, era tudo o que eu sempre quis.

Ser DJ numa das maiores casas noturnas do Brasil, poder produzir um programa semanal na segunda maior emissora em audiência de rádio era a realização do sonho.
Mas a maldita timidez interferiria mais uma vez, impedindo de poder crescer no meio musical, um bom relacionamento profissional, ter contatos, ser audacioso, poder arriscar.
Mesmo sendo considerado um dos melhores, tanto nas mixagens ao vivo, as viradas, quanto na produção em estúdio: os bootlegs, os mashups; cortes feitos em fitas de rolo. Usava a criatividade, a imaginação.  Aquela mesma de criança quando rabiscava os personagens tirados dos quadrinhos e dos álbuns de figurinhas.

Sonhos que faziam transportar-me em alma para outros continentes, levaram-me a atravessar o oceano em corpo, certo de que seria um caminho sem volta. E realmente foi, pelo menos em emoção e sentimento, lembrancas e saudade.
Uma ida que não deveria ter tido a vinda. Mas enfim, erros cometidos pela emoção do calor do momento.
Não foram erros de rabiscos em grafite que puderam ser apagados com uma simples borracha. Ou, talvez, erros na montagem nos acordes, cujo corte com uma gilete e uma fita adesiva  resolveria tudo.
Insegurança, medo, temor: precepitação.
Receio e preocupação.

Tempos em que mais uma vez pude praticar a criatividade. Desta vez com os temperos, o calor da grelha e do fogão. A calda, o ganache, a fruta sendo transformada no coulis para adoçar o paladar.
Conquistando a admiracão e respeito daqueles que provaram. Provaram o doce, o salgado e o caráter.
Minha personalidade temperada com exigência de perfeição, salgada com críticas e doce de coração. Tudo equilibrado na temperatura adequada pelo momento.

Ah, quem dera eu ter escutado meu lado mais ousado com aquela coragem de viver independente de tudo e todos, e não ter me acovardado na timidez e pequenez de misericórdia.

Paredes que se ergueram.
Portas que se fecharam pelo lado de dentro.
Lugares abafados, sem janelas.
Escuridão e silêncio.
Lá dentro sem forças e capacidade para abrir.
Terror, tremor e temor.

Instabilidade emocional na mesma e velha capacidade intelectual criativa.
Sonhar e planejar.
Querer conquistar e transformar este mundo doente.
Egoísmo e egocentrismo, traições e covardia.
Banalizaram o normal, sem moral.
Desconfiança.

Transformando-me no senhor das minhas impacientes opiniões.
Inegociável e crítico.
Assumi o silêncio indiferente na minha ausência.
O eu dentro de mim mesmo, minhas ideias e meus ideais.
Não aceitando a injustiça pessoal e social.
Porém, sem forças e capacidade para mudar o que está ao redor,
Fico ao som de melodias e busco em minha criativa memória,
Lembranças para escrever contos e histórias
Trancado num quarto vazio.


por Wagner Pires,
em, Roteiros de Uma Rotina.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

UM POEMA PARA UM POETA



"Sentimentos são inexplicáveis,
Mas tentar explicá-los pode abrir portas
Para explorar e imaginar um mundo vasto e bonito,
Para se ver e compartilhar.

Compartilhar vai além de partilhar.
É criar momentos com pessoas especiais
Que vieram para somar.

E, nessa jornada, onde ganhei um amor,
Também ganhei um protetor com uma armadura para nos proteger
E guiar nesta viagem chamada vida.

À você, sogro, dedico este poema
Para tentar representar minha forma de te apreciar.
Feliz Dia do Pai."



Letícia Nascimento de Jesus
em homenagem à mim neste Dia do Pai de 2024
Minha gratidão, carinho e amor ao meu filho e minha nora

terça-feira, 9 de julho de 2024

PRELÚDIO DO ACASO

https://i.pinimg.com/originals/fe/a8/1c/fea81ce65de978cd02834837b1a80c49.jpg



Quase meia noite, ela vem de forma sutil, sensual, para me seduzir.
Vestido branco transparente e esvoaçante encobrindo o seu rosto.
Olho o relógio e vejo que ainda é muito cedo, me reviro, um leve levantar e encosto minhas costas à parede para refletir: porque já tenho que partir?
Sou da noite. Da madrugada acordado, uma mente que não para de planejar.
E esta é uma daquelas noites em que não me preocupo com o futuro, com o temor da violência, nem das dores que em meu corpo atormentam.
Muito pelo contrário, mesmo cansado do atarefado trabalho, esta é daquelas noites em que me deleito na minha trilha sonora.
Das músicas que me inspiram, me intrigam. Me faz sonhar imaginando a natureza me elevando a lugares por mim a serem desbravados numa intensa viagem.

Feche seus olhos e me veja.
Segure minha mão e venha comigo para estas viagens em outros paraisos.
Sem trabalho e sem dores. Apenas romances e amores.
Uma natureza infinita, muito além da curvatura do universo.

Acordo aos gritos!
Deixo-te de lado, que insiste em fixar teu olhar de reprovação, querendo me abraçar e me beijar. Envolver minh'alma.
Revela tua verdadeira personalidade sinistra, cruel e infiel, macabra.
Ainda não preciso deste teu amor, do teu consolo.
Me conforta ainda desfrutar desta solidão, mesmo que mal planejada.
Dos sonhos ainda não despertados, ou já conquistados, mas talvez mal realizados.
No curso deste sono ainda estou no meio da madrugada.



Wagner Pires
Roteiros de Uma Rotina

domingo, 16 de junho de 2024

NO ANDAR DE CIMA

imagem: https://www.bloglovin.com/blogs/lunettes-roses-3501384/photo-5415202399


Eu, no andar de baixa, em meu único dia de folga e descanso, só queria estar dormindo.

Quase todos os domingos, quase todo o domingo,
As 6, as 8, ao meio dia, por todo o dia.
Não tem hora para começar, não tem hora para acabar.

Buzina, um grito, um chamado, um xingo.
Batem à porta, batem na porta, batem a porta.
Vizinhos, parentes, amigos, familiares, qualquer um que por ali passe.
Em pisadas pesadas e apressadas sobre a velha escada em madeira.
Sempre de qualquer maneira.

Voa uma latinha, voam várias bitucas que ficam ali mesmo pela calçada.
Já voou até um saco de lixo que rasgou e permaneceu por toda a madrugada.
Risadas, choro, palavras de baixo calão, palavras em tom nada baixo.
Não aceitam a expressão "não".
Divergências geram contendas.
Arrastam o brinquedo, arrastam a cadeira, arrastam o chinelo, arrasta a vassoura.
Problemas que vão sendo varridos para debaixo do tapete, d'uma vida que vai se arrastando.



Wagner Pires
Roteiros de Uma Rotina

sábado, 15 de junho de 2024

SOU UM PRIVILEGIADO?

https://roomofkarma.se/category/photography/


Noite de verão, não tão quente como nos dias de hoje, e as crianças nascidas nos anos 60 brincam na rua ainda de terra. Os vizinhos adultos sentados em bancos e cadeiras compartilham estas brincadeiras de esconde-esconde, pega-pega e tantas outros jogos. Aliás, alguns destes adultos dividem a rua em duas e vão brincar de queimada.
Hoje as crianças jogam os games em seus smatphones enquanto os adultos conversam com os vizinhos e familiares através de grupos no Whatsapp.

Telejogo, Atari, Mega Drive, Sega CD, Play Station, X Box....Jogos que evoluíram dos dois pontinhos para cartuchos, CDs, online jogados na TV.

Na copa do mundo do México em 1970 foi transmitida em preto e branco numa televisão de tubo revestida numa enorme caixa de madeira e coloca na janela do quarto dos meus pais. Virada para a calçada para que todos vizinhos pudessem assistir, visto que eram poucos que tinham recursos para comprarem uma TV.
TVs à válvula que transmitiam em preto e branco que só conseguiram transmitir o colorido mundo muito tempo depois.
Tela plana, plasma, LCD, LED, 4k, Ultra HD. Analógica com suas enormes antenas instaladas sobre os telhados. Pequenas antenas embutidas onde servia de apoio para a esponja de aço para judar a captar o sinal. Antenas parabólicas, TVs a cabo, Streaming. TVs digitais e SmarTV.

O mundo em preto e branco de rolos de filmes fotográficos, até o surgimento da revelação colorida, revelam a calça boca de sino, a estampa xadrez, a popularização do hoje tão comum Jeans. Jeans indigo: o blue jeans. O Jeans desbotado, a calça rasgada. Calça cintura alta, calça bag, Saint Tropez. Cos alto, cos baixo, cos duplo.

A moda é cíclica, assim como os costumes são cíclicos. A sociedade repete os mesmos erros e acertos de gerações distantes.
Uma geração que nasceu nos anos 50, 60, 70 atravessou o século e atravessou o milênio. São apenas números que determinam o tempo, apenas registrados nos calendários.
Relata a idade das rugas, das dores, dos fatos, hitórias. Das experiências vividas.

Histórias que hoje são escritas em blogs, nas redes sociais, ou ainda, ditas através de curtíssimos vídeos de uma nova geração com pressa e sem paciência. Esta nova geração que não lê, não escreve, apenas enviam áudios, dificultando o seu próprio aprendizado.
As histórias eram registradas em agendas, diários. Conversadas por cartas que demoravam para chegar. Bem diferente dos e-mails, chats, messenger e apps que foram surgindo.

Na metade dos anos 90 a internet era uma selva desconhecida a ser desbravada. Atualemente se você não está conectado é um desconhecio ou um ser inexistente. Tudo tem de passar pela rede: nascimento e morte, a compra e a venda, o pagamento e o recebimento, o casamento a separação. Alguns namoros e casamentos de quem se conheceu pela rede. Descasamentos causados pela rede.

Os computadores em cartões perfurados foram abandonados quando vieram os enormes disquetes, que posteriormente foram compactados. O surgimento do CD e DVD, para depois darem espaço para os cartões de memória, que também foram diminuindo de tamanho e aumento em capacidade de armazenamento de dados. Claro, hoje eles também são obsoletos, afinal tudo é guardado em nuvem.

Os pesados, robustos e desajeitasdos telefones de mesa com um fio ligado à parede, que utilizavam um disco para efetuarem uma chamada, virou peça de museu. Neste museu, eles têm a companhia de sua evolução posterior, o telefone digital, por teclas, também de mesa. Deixou as cores básicas, o preto e o branco, para o colorido: marrons, amarelos, vermelhos, verdes, de acordo com a invenção e design de seus criadores afim de criarem marketing e tendência.
Surgiu a telefonia celular. Os primeiros que por aqui apareceram tinham pesadas e grandes baterias, pareciam tijolos encaixados num "coldre" preso à cintura. Para uma boa comunicacão era necessário levantar uma antena que estava embutida. Era extremamente chamativo usar estes trambolhos num transporte coletivo.

Por falar em transporte coletivo, já andei de bonde, trem, metrô. Carro a diesel, a gasolina, álcool, gás. Hoje são híbridos e ainda os elétricos. Não sei se estes serão longevos, já estão apresentando algumas deficiências quanto a sua praticidade e custo. Se é que realmente não agridem o meio ambiente.

Estas gerações de 40 a 80 parece que ainda não acordaram para a necessidade de preservar o meio ambiente para as gerações futuras. Teimam em desacreditar na ciência. Uma geração que ainda coloca a religião acima das evidências, acima das comprovações científicas.

Gerações que questionam o homem na lua, que o mundo seja uma esfera. Desacreditam que tivemos que enfrentar uma pandemia, quase 100 anos depois da última pandemia. E que a evolução da ciência foi capaz de produzir muito rapidamente uma vacina que evitasse que esta pandemia se tornasse uma catástrofe muito maior do que ela foi.

O que eu considero ser privilegiado não é ter andado num robusto Gordini, DKV, Aero Willis. Pedalado numa pesada bicicleta de ferro fundido e hoje poder desfrutar da leveza da fibra de carbono.
Abandonado o ferro que corrói pelo resistente alumínio. Das casas com pesados tijolos que deram lugar para o prático e simples Dry-Wall.
Nem ter vivido as fases da economia mundial: compra da casa, do carro, bens elétricos e eletrônicos e hoje vivermos a fase do bem estar: academia, alimentação saudável, medicamentos para emagrecer, cirurgias plásticas, turismo, pets.
Muito menos ter sobrevivido à crise sanitária causada pela pandemia.

Privilégio é si mesmo acompanhar estas evoluções e alterações. É crescer interiormente. Expandir os horizontes da mente. Acompanhar e entender estas novas gerações. Saber dialogar, discutir. Compartilhar ideias; ensinar e aprender. Mesmo que não concordando, mas aceitando a nova formação estrutural da sociedade. Não teimosamente ficar com a mente presa em dogmas e preceitos medieval e arcaico como se estivéssemos vivendo um feudalismo contemporâneo controlados pela aristocrasia, burguesia e o clero.

Num mundo globalizado quase sem fronteiras, os pensamentos devem ser globalizado e sem fronteira.



Wagner Pires
Silêncio, O Culto

domingo, 9 de junho de 2024

ONDE ISTO VAI PARAR

fonta da imagem: Symbolbild-Foto-pixabaycom-769939


Os memes por aí dizem que "o brasileiro tem que ser estudado".

Na verdade o brasileiro precisa é estudar. O estudo desenvolve a cultura, o conhecimento, a educação e o respeito às pessoas.

Ontem, na rede social vizinha, uma jovem mãe a filmou dentro de um ônibus, possivelmente na cidade do Rio de Janeiro, onde o motorista conduzia em alta velocidade e cometendo várias imprudências. Ela pedia aos gritos que alguém cedesse um banco para que ela e o bebê de 7 meses pudessem se sentar. Filmou vários tipos de pessoas: crianças, jovens, senhores, senhoras...e ninguém se manifestou, todos ignoravam a mulher e a filmagem.

Pois bem, semana passado eu fui ao supermercado e ao chegar no caixa duas moças com duas crianças já estavam finalizando suas compras. Porém, deixaram alguns sucos de uva em caixinhas de 200ml ainda sobre a esteira porque não iriam mais leva-los - não tiveram o trabalho de retira-los, deixa-los ao lado, ou devolve-los, apenas deixaram para que o próximo palhaço tirasse do caminho. No momento de pagarem suas compras, uma delas pediu para a operadora que dividisse em 3 cartões. Passou o primeiro terço no crédito, o segundo terço no vale alimentação e o terceiro, e último, seria pago no débito, cartão este que ela foi buscar com a outra mulher. Ao tentar efetuar o pagamento o cartão foi recusado, foi quando percebeu que era o cartão errado. Voltou a ir até à outra mulher para pegar o cartão correto. E eu continuava a esperar com as minhas compras sobre a esteira. Neste momento chega o marido com mais produtos e pergunta à mulher porque já estava efetuando o pagamento visto que ele ainda tinha mais coisas a serem pagas. Ele deixa uma peça de carne e alguns outros produtos na minha frente para pagar, mas saiu para buscar o pacote de sal grosso que havia esquecido. Eu continuava ali parado, aguardando. A mulher tentava pagar o último terço da compra anterior, mais uma vez não foi autorizado, desta vez a senha estava incorreta. Já que o caixa ao lado desocupou eu disse: "fiquem à vontade, afinal o caixa é de vocês mesmo?!"

Hoje, mais uma vez, fui ao supermercado para fazer as compras para o almoço de domingo. Acordei meio tarde, estava cansado da semana que foi bem puxada, e tive que ir às pressas para não atrasar tanto o almoço - ilusão. Chego ao caixa exclusivo para pessoas acima de 60 anos, entre outros, e à minha frente 3 pessoas: uma moça já finalizando suas compras, uma outra jovem moça com o carrinho lotado e imediatamente a minha frente um rapaz com uma criança de uns 6 ou 7 anos. Ou seja, nenhum destes três se encaixavam no critério de caixa preferencial. O rapaz olha para mim, olha para meu carrinho de comrpas, olha para o filho e o retira de dentro do carrinho de compras dele e o segura ao colo (inutilmente, pois este tipo de situacão não é considerada preferencial, não é um bebê de colo).

Mais uma vez vejo ao lado um caixa quase vazio, não digo nada e prefiro trocar de caixa. Um casal de idosos finalizando suas compras, meio atrapalhados, e em seguida uma senhora com 3 pacotes de macarão, 3 sachês de molho de tomate pronto, 3 latinhas de extrato de tomate e uma garrafa de 1,5 litros de guaraná Antarctica. O casal finalizava o pagamento já com a esteira livre para a senhora colocar seus produtos, porém ela, sem pressa alguma, já que aparentemente seu almoço de domingo ficaria pronto em uns 15 a 20 minutos, não tirava os olhos de seu celular verificando algumas conversas whatsapp, deslizando para cima e para baixo.

Quando o casal finalmente partiu a atendente cumprimentou a senhora e pediu para que ela pudesse colocar seus produtos na esteira. Lentamente os colocou um a um, se deslocou para a frente e simplesmente me ignorou deixando o carrinho de compras dela vazio no caminho. Mais uma vez o palhaço tem que fazer o serviço dos outros e colocar o carrinho onde não atrapalhasse mais ninguém. Passado todos os produtos no leitor a atendente questiona qual seria a forma de pagamento. Ela vira-se para a atendente e pergunta se no supermercado havia caixa eletrônico porque ela estava com um problema no cartão e teria que sacar o valor. Não consegui entender que problema seria este em que o cartão passa num caixa eletrônico, mas não passa na máquina de cartão do caixa. A atendente diz que tem e que provavelmente ela não conseguiria sacar o dinheiro porque o caixa estava com problemas. Mesmo assim ela deixa suas compras já registradas no caixa, eu esperando e vai à procura do tal caixa eletrônico. Volta sem sucesso. A atendente sugere para ela se cadastrar online no cartão de crédito do supermercado. Eu com minha paciência que sempre é próxima à zero pergunto se ela está a passeio, fazendo turismo, porque eu estou fazendo compras. Ela, ainda se cadastrando no cartão, e tendo dados incorretos, vira-se para mim e diz que o problema são estes velhos da terceira idade que são rabujentos. Eu pergunto à ela: se é o meu problema, possivelmente seria o dela também, porque se não fosse ela não deveria estar num caixa preferencial para este tipo de pessoa, idosa. Sínica, tenta me mostrar seu documento comprovando sua idade de 67 anos apesar da sua "aparência não demonstrar", segundo ela. Eu tive que rir porque realmente a aparência dela não demonstrava ter apenas 67 anos, parecia algo próximo aos 80 anos. Num calor de mais de 27ºC, esta senhora trajava um casaco de couro com pelos nas mangas, na gola e nos punhos; uma bota com um salto de 15 centímetros, vestindo uma calça de couro preta bem fajuta. Tudo isso para ir ao supermercado ao meio dia de um domingo ensolarado. Sua falta de senso não era apenas com sua aparência física, mas também com sua vestimento.


Não me interessa a aparência dela, a idade dela, sua alto estima, suas vestes, ou ainda qual seira o cardápio do seu almoço, tudo isso foi apenas para ilustrar esta crônica. O que interessa mesmo nestes 3 fatos acima mencionados é a falta de respeito dos cidadãos com as outras pessoas. Sejam elas homens ou mulheres, jovens ou velhos, rico ou pobre, preto ou branco. Ninguém não está nem um pouco preocupado com o semelhante.

Conclusão, o brasileiro, em geral, com raríssimas excessões, não respeitam filas no supermercado, filas no ponto de ônibus, faixa de pedestre, não respeitam nada e ninguém.

Tenho "n" histórias vividas no atendimento ao público que comprovam esta minha visão. E tenho tantas outras histórias de fatos que presencial principalmente nestes últimos anos (melhor dizendo, desde que retornei ao Brasil). Não é uma visão de um antinacionalista, é o COTIDIANO que acompanho in loco e online. Um ufanismo irritante, que transformam estas pessoas em arrogantes e soberbas. Preocupadas apenas com si mesma. Não são fatos exclusivos de desconhecidos, mas também de conhecidos, amigos e familiares que agem desta mesma forma egocêntrica.

Vendo isto eu me pergunto, e não me preocupo, como será o Brasil daqui 10, 20, 50 anos?



Wagner Pires
in, Roteiros de Uma Rotina


quinta-feira, 30 de maio de 2024

MEMÓRIAS NEM SEMPRE MEMORÁVEIS

https://elblogdegalansobrini.wordpress.com/2014/04/11/descubriendo-berlin-i/



E assim, num silêncio, vai terminando mais um dia, um feriado.
Amanhã retorna-se à rotina: voltam a preocupação, o cansativo trabalho, a correria e tantas outras obrigações.
Obrigado!
Sim obrigado. Forçado a levantar-me num horário que não desejo, de onde não gostaria de estar, para onde não quero ir. Minhas aflições.
Aflito, conto os dias num velho calendário pendurado na parede da cozinha e vou riscando cada dia que se passa até chegar ao dia estipulado, com tudo já planejado.
Pulsante em minha mente, num coração esperançoso, ficam as emoções.
Reflito neste restante. Tudo que será abandonado, deixado para trás, sem utilidade. Mas, jamais esquecido. Levarei pouca coisa que será despachado. Tudo embarcado.
Embarco neste sonho de maneira constante, tornando este discurso enfadonho. Transparecendo as minhas ilusões.
Porém, fica uma dúvida: até onde o corpo será capaz de acompanhar a mente? Já anda dando sinais de estar cansado, em seus sofrimentos, desconforto e dores. Está esgotado.
Desfolhando as folhas de um livro procuro aliviar esta tensão fortalecendo a mente. Pelo menos a mente. Enriquecendo de cultura, transportando-me para o cenário do enredo e dos personangens e sentir as vibrações.
Buscar um paralelo com o Roteiro de Uma Rotina e, o que não servir, descartar. Mas o bom, recria-lo, recicla-lo e transpor nestas Crônicas de Um Andarilho obstinado.
Afinal, nestes tempos obscuros de falta de informação as poucas que encontramos são más informações.
Então, sempre procuro regozijar-me em mim mesmo, com as tarefas do COTIDIANO. E, as responsabilidades devem me trazer ânimo, metas a serem alcançadas e supera-las. Para isso, tento estar sempre animado.
Rabiscando, escrevendo, descrevendo. Com palavras mal escritas, frases sem sentido, vão revelando a minha vida nestas minhas anotações.
Não me importo, pois ficarão os registros e, um dia talvez, por alguém, serei lembrado.




Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

domingo, 19 de maio de 2024

NO LIMIAR DA SUA PRÓPRIA LOUCURA

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Depressão é ausência de paixão
Paixão é o amor sem medida, o amor sem limite 
Paixão é o amor exagerado, extravagante

Insegurança, temor, medo
Medo de viver o novo de novo
Medo de uma nova paixão



Wagner Pires
Roteiros de Uma Rotina

sábado, 27 de abril de 2024

O ALBATROZ

imagem: https://www.heise.de/news/32C3-Gegen-Gated-Communities-Facebook-muss-seine-Mauern-einreissen-3057076.html


C'um enfoque no infinito
Vou fugir por este selvagem mundo
Montanhas escalar
E lá no alto
Ao ritmo da batida do techno
Fechar os olhos e viajar
Sem nenhuma substância
Dos poros exalar e pura e verdadeira alegria

Como o Cristo Redentor
Abrir os braços
O céu com alegria contemplar
Soltar a alta voz, para quando este grito ecoar
Estremecer as densas nuvens
E quando a chuva cair
Assim como Gene Kelly
Sapatear pelas calçadas da cidade

As vitrines apenas cortejar
No utópico imaginario d'um mundo colorido
Mesmo em preto e branco
Clandestino
Entro no primeiro vagão
Não importa o destino
O importante é seguir o caminho
E que seja bem paulatino

No momento, saltar escondido
Continuar um anônimo
Prefiro que me conheçam pelo meu pseudônimo
Deixo que acreditem nas falácias
Sigo nesta minha razão
"Sem partido, sem religião"
Habito onde pratico meu hábito
Prático

Não tenho rotina
E assim eu navego
Só não é um barco sem leme
Pois meus ideais eu carrego
Pelas muralhas da China
Manifestando minha ideologia
Para derrubar os conceitos como os muros de Berlim
Com intensidade por toda a minha idade


"E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu." Atos 9:3


Wagner Pires
in, Roteiros e Uma Rotina


quarta-feira, 20 de março de 2024

VIDA BANDIDA



Bandido, o próprio significado já diz: é bandido
Polícia é bandido
Político é bandido
Empresário é bandido
Militar é bandido
Juiz é bandido
Religioso é bandido, muito bandido
Coach e influencer é o novo bandido
Cidadão do bem além de burro é bandido
Família é bandida


Wagner Pires

terça-feira, 5 de março de 2024

JESUS TE AMA

https://www.katholisch.de/artikel/28489-verrat-oder-friedensinstrument-die-zwei-gesichter-der-heuchelei



Sexta-feira, por volta das 21 horas, o marido da um beijo no rosto de sua mulher. Ela com um bebê ao colo, outro agarrado às suas pernas e outros dois sentados no sofá brigando pelo controle do videogame.

A pia ainda se encontra com toda a louça do jantar, fogão com as panelas e o que sobrou de comida. Mas é hora de dar banho nas crianças e colocá-las para dormir. Depois disto voltar para organizar a cozinha.

A tarefa não para por aí. Se encaminha para a lavanderia para estender as roupas que estavam sendo lavadas na máquina enquanto preprava o jantar.

Termina a noite, termina a madrugada, inicia o dia. O marido chega, embriagado, acorda a esposa e assusta o bebê que dormia ao lado. As crianças ficam apavoradas.

Dormiu por toda a manhã e desperta reclamando do almoço. Está com pressa para ir ao pagode com os amigos.

Sai mais uma vez, todo arrumado, perfumado, som alto no carro, partiu acelerado. Desta vez, nem um beijo no rosto.

O final de semana se foi, o marido nem chegou ainda.

Na segunda-feira abre a porta em polvorosa, irritado porque terminou com a namorada. E a mulher é que é espancada.

Separação? Não pode. Como seria enfrentar um mundo sem a sua existência? É obrigada a seguir acreditando, tendo fé que um dia tudo irá mudar, as coisas vão começar a dar certo.

Ferida no corpo, machucada na alma ouve da própria mãe: "tenha paciência, homem é assim, ele casou jovem, quando estiver mais velho ele vai parar com tudo isso. Eu vivia assim com seu pai, e ele me dizia que me amava".



por Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto



terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

DEPOIS

imagem: https://i.pinimg.com/originals/fc/59/e3/fc59e3da49a982b1217f89d58f6cf5dd.jpg


Fica o dia
Fica a noite
Fica o ontem

Fica o passado
Fica a saudade
Ficam as lembranças

Ficam os desejos
Ficam as vontades
Fica o tempo

Ficam dores no corpo
Fica dor na alma
Fica o ceticismo

Fica a irritabilidade
Fica a desconfiança
Fica a solidão



Wagner Pires
Roteiros de Uma Rotina




terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

DESALENTO

https://www.deutschlandfunkkultur.de/soziale-netzwerke-ueber-breitscheidplatz-bestuerzung-trauer-100.html


A cidade cheira a fezes humana
Roupas sujas, molhada de urina
Cheirando o suor do corpo não lavado
Moradores de rua em todos os lados

A cidade cheira a insenso
Aromas que saem do narguilé
Cheira a carvão queimado
Fumaça para todos os lados

Na cidade cheiram, tragam, baforam, fumam
Um tiro, um tapa; balinha, k2, k9
Um mundo alienado
Agitação e adrenalina em todos os lados

A cidade cheira a pólvora e cheira a sangue
Sangue escorrido pelo chão
Trabalhador assaltado
Insegurança em todos os lados

A cidade cheira a poluição
Carros velhos, sem manutenção
Fábricas expelindo o óleo queimado
Desrespeito por todos os lados

A cidade tem cheiro de esgoto a céu aberto
Nas terras invadidas, nas comunidades
No rio contaminado
Abandono em todos os lados

Poderíamos sentir o cheiro dos frutos e das flores
Da paz e da tranquilidade
O perfume do casal apaixonado
Exalar o amor em todos os lados

Mas tudo isto não me cheira nada bem
Me cheira a corrupção
Me cheira a acomodação
E a cidade vai ficando cada vez mais aquém


Wagner Pires
Silêncio, O Culto

domingo, 28 de janeiro de 2024

FANTASMAGÓRICA FANTASIA

imagem: https://pixabay.com/de/illustrations/weiblich-frauen-gespenstisch-sumpf-8203362/


O mundo atual é puramente virtual
Nada natural
Muito artificial
Comportamento anormal
Injusto e desigual
Teoria banal

Cheio de corantes
Espessantes
Aromatizantes
Anabolizantes
Conservantes
Estabilizantes

Para ativar a serotonina
Dopamina
Endorfina
Morfina
Substância que lhe defina
Mas exala toxina


".....maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço..."Jeremias 17:5



Wagner Pires
Roteiros de Uma Rotina

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

OLHANDO NO RETROVISOR

crédito da imagem: https://pt.pngtree.com/freebackground/road-h5-distant-background_679900.html


Fabricado no longínquo anos 60, tadinho, já está dando muitos problemas. Acho que já está na hora de o aposentar.
Não digo jogá-lo ao ferro velho, sucatear suas peças. Abandoná-lo no terreno baldio, onde cresce a erva e o lixo. Mas de encostá-lo na garagem e deixá-lo descansar.

Afinal, foram mais de 60 anos na estrada, muito bem rodados.
Analisando toda a sua trajetória, parece mais um trator, ou um tanque de guerra nos campos de batalha. Incansável trabalho pesado, infindáveis lutas. E poderia dizer: cansou do trabalho pesado; cansou das lutas.

Os amortecedores já não são os mesmos, já sentem o desgaste das passadas.
Nem o óleo desce perfeitamente pela tubulação, parece que tudo entupiu. Tem que se alimentar de um óleo aditivado, colocado bem devagarinho para que não venha a engasgar.
E por falar em engasgar, às vezes, na hora de ligar, tem que engatar uma segunda marcha para ver se pega no tranco. Não que precise empurrar, ainda não chegou nesta fase, mas no tranco, às vezes, como disse, é necessário.

Vive na oficina. Sempre fazendo um check up. Teste disso, teste daquilo. O mecânico passando "medicamentos especiais" para prolongar sua vida útil. Ocasionalmente uma vida meio que inútil..

O motor ainda não está batendo biela, segue firme, pulsante, a pressão como de um adolescente. Mas é uma fumaceira danada, bufa o dia inteiro. Acho que o problema é no sistema de alimentação e distribuição.

O velhinho anda um pouco enferrujado, desbotado, perdendo o brilho. O seu auge, o seu glamour, já passou faz algum tempo. Agora é ir tocando, trocando as marchas bem suave. Nada de acelerar. Pé no freio e pouca estrada, desviando dos buracos, pegando os atalhos da vida e esperar o momento de apenas ficar registrado na história.

Modelo único, com o número do seu chassis registrado, documentação em dia. Cumpridor do seu papel, da sua função para a qual foi produzido, com respeito. Deixando um legado de um novo modelo, aperfeiçoado. Mais moderno, mais eficaz, bem mais melhorado. Em tempos tecnológicos é perfeito, muito eficiente. Capaz de desbravar o mundo.

E assim segue a vida, olhando no retrivosor o caminho seguido, e fica para quem vem atrás se aventurar nestas novas estradas, novas jornadas, desafios e conquistas.
Estes outros novos modelos para perpetuar de geração em geração, e as histórias daquele velhinho carrinho, com carinho, jamais ser esquecida.


Wagner Pires