terça-feira, 13 de maio de 2025

"JENIALIDADE"

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Haja paciência para que se possa ter uma digna sobrevivência.

Hora de acordar, caminhar por ruas esburacadas, mal tratadas e você tropeça na falta de respeito das pessoas que encontram pelo caminho.
Tenta atravessar uma passarela e tem que se espremer nas grades, poorque o inflado egoismo de um grupo de três pessoas conversando lado a lado ofuscou a visão não permitindo que me visse em sentido contrário.
Chego à uma estreitíssima calçada e o fato se repete. Um casal tão apaixonado que não vê mais ninguém no caminho e não conseguem simplesmente por uma fração de segundo largarem as mãos. Eles estão indo, sem se preocupar com quem está vindo.

Chego no ponto de ônibus e aí é um salve-se quem puder, todos querem entrar primeiro, é um empurra-empurra. Prioridade, não existe. Mochilas às costas, ou deixadas no banco que deveria estar vazio. Penduram-se aos ferros e não dão licença, estacionam nas portas. A gentileza é história do passado, apenas guardada na memória de algum museu.

Não é nada diferente quando vou às compras, os preços estão caros, a grosseria é gratuita.
Nos corredores e, principalmente, quando se chega ao caixa. Furam a fila, também não se respeitam as prioridades, deixam produtos na esteira, carrinhos pelo caminho. Não tem pressa de embalar as compras, muito menos para efetuar o pagamento - calmamente pegam a carteira que está na bolsa, procuram o cartão, e ainda pegam o cartão errado. Consultam o saldo no celular que não consegue sinal de rede. Parece que estão passeando em turismo pela Champs-Elysées. Esperar, fazer o que!

Carrego tudo no meu carro e tento voltar para casa. Ônibus e caminhões saem em velocidade de suas exclusivas faixas e invadem as demais. Motos atravessam o caminho zigue-zagueando, buzinando, escapamentos adulterados. Todos alterados: gritam, xingam, brigam, sacam uma arma. Um rali de egos e desanteção. Falta de atenção e um lerdo reflexo. Reflexo de comportamento em que o seu umbigo vale mais do que uma vida.

Me sento ao balcão da cafeteria, o desrespeito senta ao lado. Curiosamente, o desrespeito vem dos dois lados do balcão, seja num serviço privado, ou público. Agressivamente, o "rei" faz o seu pedido, e o atendente reage como um "súdito" revoltado. Estressado por ter caminhado em estreitas calçadas, atravessado tumultuadas passarelas e chegando ao trabalho em transporte lotado. Muitas vezes num trabalho de uma relação: exploração x desinteresse (eu quero contra o eu preciso - conflito sem equilíbrio). O cliente atravessou a cidade por vias congestionadas com caminhões, ônibus, carros e motos disputando um campeonato de tempo e espaço.

O estressado cidadão, morador numa cidade sem um Plano Diretor, ou, talvez, com um Plano Diretor voltado aos interesses das construtoras, do setor imobiliário, do comércio local, mas nunca voltado a eficiência e qualidade de vida.
Altos prédios com seus minúsculos e desconfortáveis apartamentos deixam a tensão nas alturas. A cidade espremida.
Sem poder se expressar, nas comunidades os moradores esquecidos, nas calçadas os moradores invisíveis.
Inviável qualquer plano de resocialização. Não há uma efetiva ação, porque ninguém tem razão. Políticos, polícia, poder público, abandonados, drogados, crime organizado numa cidade desorganizada. Na mídia se faz muito barulho para nada.

O barulho invade a vida das pessoas na velocidade do som. Uma trilha sonora mal redigida muita mau regida. Sem harmonia.
Motos envenenadas, carros com em seu alto volume de um estilo musical piorado. Estes estilos musicais brega também acupam os restaurantes, não há diálogo porque o som se sobressai. 
Diálogos de narcisistas viraram um linguajar tosco, limitado e de baixo calão.

Ouve-se ainda o ruído de uma política que desmorona, em frangalhos. Uma polarização burra por uma admiração cega por um "mito" que surgiu de uma fé exagerada aprisionada em um ambiente intolerante, desigual e cruel. Onde deveria se pregar a vida, se doutrina a morte.
Morte da liberdade, morte dos ideiais, morte dos desiguais.

Neste tempo, vemos morrer a sabedoria e a inteligência. As telas brilhantes dos celulares estão apagando as mentes brilhantes. Não existe mais a ponte ao conhecimento, são dois lados que não se conectam. Um lado é um espelho que reflete uma imagem de vaidade e busca frenética por atenção. Do outro lado a incapacidade de discernir o certo - a ilusão - uma vida bem dotada de maravilhas.

A mentira virou uma verdade - virou um método. A verdade deve ser enxovalhada - contestada e ironizada.

A linha tênua que separa o ufanista e a síndrome de viralata. Esta separação nada constrói, apenas destrói. Um nacionalismo, ou ausência dele, que se afastam por não terem senso crítico.

Momento crítico: a ignorância (falta de inteligência) do brasileiro. Não importa se é aquele privado de oportunidade, ou aquele diplomado numa escola privada, muito bem empregado, bem remunerado, profissional prestigiado.

O verdadeiro saber vem da humildade. E esta, parece, anda muito em falta.



por Wagner Pires
uma crônica em Silêncio, O Culto 



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