domingo, 4 de maio de 2025

OBSERVATÓRIO: OBSERVANDO UMA RENCA DE OTÁRIOS

 

https://jrocheleau.blogspot.com/2015/01/originaux.html



O Brasil é, sem exagero, um país estranho.

Um grande público passou dias acampado em frente a um hotel na cidade do Rio de Janeiro, usando fraldas, rolando-se no chão, lamentando-se e chorando, enquanto comia - depois de sofrer com fome, sede e calor - esperando um simples acenar de sua diva que iria se apresentar ganhando milhões em cachê em dinheiro saído dos cofres público, a qual é abastecido, também, e não só, por estes mesmo público.

Outro grupo se tranca numa igreja para ouvir as "profetadas" de um mini coach gospel. Uma criança arrogante e mal educada de apenas 14 anos de idade, que mistura um inglês sofrível, um português mal falado e idiomas imaginados e inventados em sua cabeca - como se fosse um emissário celestial com conexão via Wi-Fi com um deus inexistente vindo do além. O que ele e seus irresponsáveis pais querem mesmo é ganhar um bom vintém.

Há também os que vestem a camisa da seleção brasileira de futebol, a camisa canarinho, como se fosse um uniforme de guerra, marcham em avenidas pedindo a anistia para criminosos e, entre uma oração para pneus, chamados desesperadores para extraterrestres e uma aventura na parte externa frontal da cabine de um caminhão em plena rodovia, acreditam sinceramente estarem salvando a amada e idolatrada pátria. Porém, embarcaram numa modesta e furada catraia.

Até aqui, tudo normal - ou melhor, anormal, mas já quase habital neste decadente país tão desigual.

Acontece que, pensando bem, esses grupos muitas vezes se sobrepõem. O fiel que chora diante do púlpito do picareta orador é o mesmo que se ajoelha no quente asfalto clamando pela vida do golpista. O cidadão que defende teorias conspiratórios nas redes sociais, dignas de um roteiro hollywoodiano, é aquele que vê comunismo na cor vermelha da embalagem de ketchup - odeia a ideia da sua seleção, possivelmente, trocar o amarelo canário de sua camisa por um vermelho que simboliza as cores da árvore do pau brasil. São os mesmos que acreditam, com fé inabalável em qualquer: lorota, asneira ou fake news bem empacotada.

Não para por aí.

Também tem os malucos diplomados que se vestem de terno. Homens feitos, bem instruídos, que choraram quando souberam que um jogador de futebol, multimilionário - já aposentado - voltaria ao Brasil para faturar mais uns bons milhões de reais apenas assistindo aos desfiles na Marquês da Sapucaí enquanto promete um conto de fadas com um final feliz, semelhante às comédias românticas da Disney, para o seu time de coração. E até mesmo o sonho para a sua seleção.

Crianças de oito, nove, dez anos com cabelos tingidos de vermelho, choram desesperadamente enquanto repetem o refrão de letras recheadas de apologia ao crime, às drogas, ao sexo, à misoginia. Mal sabem o que estão cantando estes MCs e estas Pipokinhas, mas sentem tudo com a ignorante alma. E isso, talvez, seja ainda mais pertubardor.

E claro, não poderíamos esquecer dos especialistas de ocasião: os que aprendem geopolítica com os memes e virologia com vídeos de WhatsApp. São doutores do ódio, bacharéis do achismo. Ora discutem pandemias e vacinas, ora a economia global, ora a Cosntituição Federal. Os especialistas da invasão da Ucrânia, da guerra no Oriente Médio, das tarifas alfandegária mundial - sempre com a certeza de quem não entende absolutamente nada.

Por fim, restam os velhos rabugentos como eu.  Gente que, entre uma tarefa e outra, perde tempo observando este Brasil doente - e denunciando estas barbáries nas redes sociais.

Desistir de expor esta falta de cultura, ao que parece, seria a única e verdadeira loucura.


por Wagner Pires
uma crônica em Silêncio, O Culto

Nenhum comentário: