sábado, 15 de junho de 2024

SOU UM PRIVILEGIADO?

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Noite de verão, não tão quente como nos dias de hoje, e as crianças nascidas nos anos 60 brincam na rua ainda de terra. Os vizinhos adultos sentados em bancos e cadeiras compartilham estas brincadeiras de esconde-esconde, pega-pega e tantas outros jogos. Aliás, alguns destes adultos dividem a rua em duas e vão brincar de queimada.
Hoje as crianças jogam os games em seus smatphones enquanto os adultos conversam com os vizinhos e familiares através de grupos no Whatsapp.

Telejogo, Atari, Mega Drive, Sega CD, Play Station, X Box....Jogos que evoluíram dos dois pontinhos para cartuchos, CDs, online jogados na TV.

Na copa do mundo do México em 1970 foi transmitida em preto e branco numa televisão de tubo revestida numa enorme caixa de madeira e coloca na janela do quarto dos meus pais. Virada para a calçada para que todos vizinhos pudessem assistir, visto que eram poucos que tinham recursos para comprarem uma TV.
TVs à válvula que transmitiam em preto e branco que só conseguiram transmitir o colorido mundo muito tempo depois.
Tela plana, plasma, LCD, LED, 4k, Ultra HD. Analógica com suas enormes antenas instaladas sobre os telhados. Pequenas antenas embutidas onde servia de apoio para a esponja de aço para judar a captar o sinal. Antenas parabólicas, TVs a cabo, Streaming. TVs digitais e SmarTV.

O mundo em preto e branco de rolos de filmes fotográficos, até o surgimento da revelação colorida, revelam a calça boca de sino, a estampa xadrez, a popularização do hoje tão comum Jeans. Jeans indigo: o blue jeans. O Jeans desbotado, a calça rasgada. Calça cintura alta, calça bag, Saint Tropez. Cos alto, cos baixo, cos duplo.

A moda é cíclica, assim como os costumes são cíclicos. A sociedade repete os mesmos erros e acertos de gerações distantes.
Uma geração que nasceu nos anos 50, 60, 70 atravessou o século e atravessou o milênio. São apenas números que determinam o tempo, apenas registrados nos calendários.
Relata a idade das rugas, das dores, dos fatos, hitórias. Das experiências vividas.

Histórias que hoje são escritas em blogs, nas redes sociais, ou ainda, ditas através de curtíssimos vídeos de uma nova geração com pressa e sem paciência. Esta nova geração que não lê, não escreve, apenas enviam áudios, dificultando o seu próprio aprendizado.
As histórias eram registradas em agendas, diários. Conversadas por cartas que demoravam para chegar. Bem diferente dos e-mails, chats, messenger e apps que foram surgindo.

Na metade dos anos 90 a internet era uma selva desconhecida a ser desbravada. Atualemente se você não está conectado é um desconhecio ou um ser inexistente. Tudo tem de passar pela rede: nascimento e morte, a compra e a venda, o pagamento e o recebimento, o casamento a separação. Alguns namoros e casamentos de quem se conheceu pela rede. Descasamentos causados pela rede.

Os computadores em cartões perfurados foram abandonados quando vieram os enormes disquetes, que posteriormente foram compactados. O surgimento do CD e DVD, para depois darem espaço para os cartões de memória, que também foram diminuindo de tamanho e aumento em capacidade de armazenamento de dados. Claro, hoje eles também são obsoletos, afinal tudo é guardado em nuvem.

Os pesados, robustos e desajeitasdos telefones de mesa com um fio ligado à parede, que utilizavam um disco para efetuarem uma chamada, virou peça de museu. Neste museu, eles têm a companhia de sua evolução posterior, o telefone digital, por teclas, também de mesa. Deixou as cores básicas, o preto e o branco, para o colorido: marrons, amarelos, vermelhos, verdes, de acordo com a invenção e design de seus criadores afim de criarem marketing e tendência.
Surgiu a telefonia celular. Os primeiros que por aqui apareceram tinham pesadas e grandes baterias, pareciam tijolos encaixados num "coldre" preso à cintura. Para uma boa comunicacão era necessário levantar uma antena que estava embutida. Era extremamente chamativo usar estes trambolhos num transporte coletivo.

Por falar em transporte coletivo, já andei de bonde, trem, metrô. Carro a diesel, a gasolina, álcool, gás. Hoje são híbridos e ainda os elétricos. Não sei se estes serão longevos, já estão apresentando algumas deficiências quanto a sua praticidade e custo. Se é que realmente não agridem o meio ambiente.

Estas gerações de 40 a 80 parece que ainda não acordaram para a necessidade de preservar o meio ambiente para as gerações futuras. Teimam em desacreditar na ciência. Uma geração que ainda coloca a religião acima das evidências, acima das comprovações científicas.

Gerações que questionam o homem na lua, que o mundo seja uma esfera. Desacreditam que tivemos que enfrentar uma pandemia, quase 100 anos depois da última pandemia. E que a evolução da ciência foi capaz de produzir muito rapidamente uma vacina que evitasse que esta pandemia se tornasse uma catástrofe muito maior do que ela foi.

O que eu considero ser privilegiado não é ter andado num robusto Gordini, DKV, Aero Willis. Pedalado numa pesada bicicleta de ferro fundido e hoje poder desfrutar da leveza da fibra de carbono.
Abandonado o ferro que corrói pelo resistente alumínio. Das casas com pesados tijolos que deram lugar para o prático e simples Dry-Wall.
Nem ter vivido as fases da economia mundial: compra da casa, do carro, bens elétricos e eletrônicos e hoje vivermos a fase do bem estar: academia, alimentação saudável, medicamentos para emagrecer, cirurgias plásticas, turismo, pets.
Muito menos ter sobrevivido à crise sanitária causada pela pandemia.

Privilégio é si mesmo acompanhar estas evoluções e alterações. É crescer interiormente. Expandir os horizontes da mente. Acompanhar e entender estas novas gerações. Saber dialogar, discutir. Compartilhar ideias; ensinar e aprender. Mesmo que não concordando, mas aceitando a nova formação estrutural da sociedade. Não teimosamente ficar com a mente presa em dogmas e preceitos medieval e arcaico como se estivéssemos vivendo um feudalismo contemporâneo controlados pela aristocrasia, burguesia e o clero.

Num mundo globalizado quase sem fronteiras, os pensamentos devem ser globalizado e sem fronteira.



Wagner Pires
Silêncio, O Culto

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