domingo, 16 de junho de 2024

NO ANDAR DE CIMA

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Eu, no andar de baixa, em meu único dia de folga e descanso, só queria estar dormindo.

Quase todos os domingos, quase todo o domingo,
As 6, as 8, ao meio dia, por todo o dia.
Não tem hora para começar, não tem hora para acabar.

Buzina, um grito, um chamado, um xingo.
Batem à porta, batem na porta, batem a porta.
Vizinhos, parentes, amigos, familiares, qualquer um que por ali passe.
Em pisadas pesadas e apressadas sobre a velha escada em madeira.
Sempre de qualquer maneira.

Voa uma latinha, voam várias bitucas que ficam ali mesmo pela calçada.
Já voou até um saco de lixo que rasgou e permaneceu por toda a madrugada.
Risadas, choro, palavras de baixo calão, palavras em tom nada baixo.
Não aceitam a expressão "não".
Divergências geram contendas.
Arrastam o brinquedo, arrastam a cadeira, arrastam o chinelo, arrasta a vassoura.
Problemas que vão sendo varridos para debaixo do tapete, d'uma vida que vai se arrastando.



Wagner Pires
Roteiros de Uma Rotina

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