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Do quintal ouço o cacarejar e, todo sorridente, Barry começa a me rodear, pensa estar na hora de ir à praia.Ainda vou apanhar os ovos, preparar o pequeno almoço, sem pressa, apreciando o silêncio da natureza.
Aliás, vou quebar este silêncio sintonizando e aumentando o volume dos acordes dedilhados nas cordas no "Apreciar o Silêncio".
Sou um eterno eclético apreciador de música, faz-me viajar pelo universo, pelo tempo, pela minha mente. Traz lembranças e saudades. Alegria e tristeza. Motiva-me, desperta-me, conforta-me e, às vezes, é minha melatonina.
Deixo que a aleatoriedade do Youtube escolha a trilha sonora deste dia enquanto me organizo. Manhã, não tão cedo, e está quente e ensolarado, sugestivo para um mergulho, pegar umas ondas.
É só carregar a kombi azul calcinha e sua encardida faixa branca, fabricada em 1978, originalzona, e fazer a alegria do Barry. Assim, pelo menos, ele deixe o Spielberg em paz deitado sobre o tapete, apenas abanando seu peludo rabo. Chico está no puleiro, quieto, nem um piu, talvez esteja concentrado nas músicas que estão indo dos anos 70 e 80, auge da era Disco.
Meu rosto traz a barba por fazer, e faz tempo, mas e a preguiça? Deixa como está. O cabelo também pede um trato, um corte, mas o dinheiro anda escasso. Talvez, à noite, possa fazer algum dinheiro na praça da cidade, o feriado se aproxima e os turistas possam comprar alguns dos meus artesanatos, ou dos quadros mal pintados.
- Vamos Barry, só vou vestir uma bermuda e enrolar um "cigarro de artista" para irmos embora.
Uma garrafinha de água, a prancha, as cansadas pernas arrastando um chinelinho tão fininho que sente a quente areia da praia.
O Jão montou cedo a sua barraca. Trabalhador, gente boa.
- Fala, Jão, de boa? Fez aqueles lanchinhos naturais para a gente, hoje? Trouxe, também, os brisadeiros para adoçar nosso paladar? Ai sim, cara, boas vendas! Daqui a pouco eu chego no pedaço. Vou levar o Barry para dar uma refrescada, vou pegar umas ondas.
Viajar na força das ondas pela imensidão deste oceano, sob as nuvens, poderia querer alcançar este distante horizonte onde o sol encontra o mar; deixando para traz a incontável quantidade de grãos de areia.
Nem o frescor da possível chuva seria suficiente para suportar a intensidade do calor sobre minha cabeça.
Muito menos a pesca de milhares destes peixes seria capaz de alimentar meu debilitado corpo, sentiria a ausência daquilo que é plantado na horta.
Dormir debaixo do luar, ao relento, estaria ainda mais cansado, com saudade do raso colchão, do fino lençol, da janela entreaberta.
Facilmente, trocaria o pertubardor silêncio das marés pela musicalidade no meu COTIDIANO. O despertar do galo.
Volto-me à realidade e, sendo assim, prefiro continuar a escrever as Crônicas de Um Andarilho como um Roteiro de Uma Rotina neste Silêncio, O Culto.
por Wagner Pires
in, Roteiros de Uma Rotina