As luzes piscam e a cidade sempre em movimento. Caminham, passos, alguns apressados, circulam carros. Outros em duas rodas:
motorizados e motivados - motivados a pedalar e exercitar. O farol se abre
pessoas de um lado para o outro, de um lado para outro. Multidão, se esbarram, se empurram, mas nem se tocam, não se olham: atarefados, preocupados, desinteressados. O rapaz ainda tenta trocar um olhar que não é correspondido, ainda tenta
mais uma vez olhando para trás, olha para a bunda. "Rapaz, olha o desrespeito, não confunda". Ela segue seu trajeto sem ao menos se incomodar. Ambulantes vendem seus pertences. Camelôs, engraxates e jornaleiros são os únicos imóveis vendo tudo se movimentar. Lá e cá o pregador, segurando a Bíblia na mão, grita palavras
de fé para que alguém as ouça, procurando o arrependido, faminto, desesperado. Nem os gritos conseguem acordar o morador das
calçadas, pouco aquecido com o velho cobertor, alguns dormem entorpecidos, perturbado, seu fiel cão acomodado ao seu lado. Cenário perturbador, imensa dor. O barulho é intenso, tenso,
irritante, assustador. Assustado com as sirenes o cidadão procura em movimentos.
A viatura passa devagar, observando, à procura da crise, do crime, ronda, ninguém está seguro. Nem mesmo do próprio policial corrupto, violento, stressado, mal remunerado, julgado e condenado pela organização criminal. Os vidros blindados, fachadas fechadas: o calor é frio e insensível, o cidadão se torna um invisível. Noites frias iluminadas por neon são aquecidas
pelo álcool, movimentada e agitada madrugada, não para, música em alto som:
carros, bares, baladas. Frisson, ninguém dorme, nem ao menos o cansado trabalhador. A adrenalina consome: banalidade, futilidade, sexo, drogas, tudo
é diversão. Quando acordam, realidade, depressão: trabalho, política, economia.
Veem as notícias nos jornais, telejornais, internet em seus celulares: metrô
lotado, ônibus apertado, mulheres se protegendo do doente masturbador. Até o
inocente se sente culpado na pressão nesta louca cidade. As crianças seguem a rotina para
a educação que não tem refletido na cultura social. Culpam a corrupção. Onde está o corruptor? Ganância pelo poder que leva à soberba, só ostentam
riqueza. Consumismo sem pensarem nas consequências quando tiverem que pagar as
faturas, outras falcatruas. E, em busca de solução, correm para o trabalho na
cidade que continua circulando em movimentos apressados sem se preocupar com o
calendário. As luzes vão piscando nesta cidade que vai se movimentando, uns correndo, outros caminhando, sem se incomodarem em olhar para todos os lados!
“O que o homem ganha com todo o seu
trabalho em que tanto se esforça debaixo do Sol? Gerações vêm, e gerações vão,
mas a terra permanece para sempre. O Sol se levante e o Sol se põe, e depressa volta
ao lugar de onde se levanta.”
Eclesiastes 1:3-5
Wagner Pires
in, Roteiros de Uma Rotina