Cortinas caídas balançam ao vento.
Nas janelas, os vidros partidos, pendurados, cortantes.
Afiados, prontos para ferir.
Línguas afiadas, ferindo.
Portas e janelas rangendo parecem Hitchcock em seus filmes de suspense.
As decisões paradas, ficaram todas suspensas.
Range os dentes de ira.
Com roupas largadas jogadas aos cantos.
E o canto que se entoa é de amargura.
Palavras amargas de agressão e opressão espanta quem pela casa passa.
E fica ainda mais solitária.
Jogado no velho colchão, fico adormecido no sofá partido. Sonho perdido.
Igualmente ao animal esquecido. Idoso.
O ainda fiel companheiro.
Enfermo até a morte chegar.
Enrolado e aquecido pelo desbotado cobertor, fica em algures na sala.
Teias nas paredes.
Reboques caem destas paredes.
O ânimo cai em sua companhia.
Paredes que carregam as marcas do tempo: escuras do suor das mãos de quem ali passava.
Na agitada casa, de lembranças e lambanças, estendem-se as teias do descaso, a poeira na solidão.
Assustador gotejar das torneiras e o piscar das luzes.
Cenário de terror.
Horrorizado pelas fatos.
Panelas deixadas sobre o fogão.
Gorduras ficaram escorridas até ao chão.
Todos saíram em disparada.
Um disparate.
Fugitivos deixaram rastros na confusão.
Casa abandonada em seus problemas.
Esquecida nas contendas e divergências.
Assombrada pelos fantasmas do desrespeito.
Morta nos pecados sem relatos.
À espera da volta de seus moradores, seus mercadores.
E sem emoção, fica a comoção pela destruição.
Enquanto a idade avança.
Um dilema que vem de anos, e que me cansa.
Casa muito movimentada, porém abandonada.
"Melhor é serem dois do que um, porque tem melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro ajuda seu companheiro..." Eclesiastes 4:9-10a
por Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho, Dec 26th, 2014
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