origem da imagem: https://br.pinterest.com/pin/37295503159521050/
Sexta-feira com uma chuva intensa, temperatura por volta dos 21ºC, 15 horas, chego ao banco e me dirijo aos caixas automáticos.
Todos os oito caixas estão ocupados e uma moça na fila à minha frente.
Enquanto aguardo, verifico uma moça conversando ao celular ao invés de realizar a sua transação bancária no terminal a qual está parada. Talvez estaria a conversar com alguém exatamente para realizar uma tal tarefa, ou simplemente ignorando a quem quer utilizar o sistema e é obrigado-nos a espera-la em sua vida particular.
Neste instante, duas senhorinhas, muito velhinhas, entram na agência bancária e se posicionam exatamente atrás de mim.
Um rapaz finaliza a operação e a moça à minha frente discretamente olha para mim, eu digo: "por favor moça, fique a vontade".
Foi quando, na agência bancária, entra uma senhora, com aparência humilde e de comportamente bem altivo, que aptresentava não ter nem 40 anos de idade, apesar que sugeria ter mais que isto devido seu aspecto cansado. Vestida com um longo vestido marrom de lycra, ou talvez de micro fibra, que marcava exageradamente as saliências desproporcionais do seu fino corpo. Um vestido com estampas grotescas e calçando chinelos tipo Havaianas®. Ao seu lado uma criança de uns 6 anos, aproximadamente, devido o seu falar, mas de uma pequena estatura. Alias, a mulher também apresentava uma baixa estatura.
Eis que esta senhora se encaminha diretamente aos caixas e eu chamo a sua atenção lhe mostrando a fila e orientando onde deveria se posicionar ao final e esperar a sua vez.
Isto foi o suficiente para que aos gritos me ofendesse e me ameaçasse, dizendo que eu não sabia com quem estava mexendo, que lá fora a conversa seria outra e tanto blá blá blá.
Eu digo: "minha senhora, para que este escândalo, estou apenas dizendo que tem que esperar a sua vez, respeitar as pessoas".
Não adiantava eu querer justificar, as palavras de baixo calão, as ofenças e as ameaças continuavam. Gritava que eu era chato por ser rico. Não sei de onde ela tirou esta definição, pois eu trajava uma calça jeans bem surrada, uma camiseta cinza básica, um tênis branco meio encardido devido a chuva e uma mochila de trabalho às costas. Nem aposentado sou, e ainda trabalho para seguir minha vida. E, nestes quase 65 anos de idade, com os cabelos já grisalhos, poderia me prevalecer da prioridade, mas mesmo assim me coloquei no final da fila quando cheguei para poder aguardar a minha vez.
Um senhor, nos comenta1rios dirigidos à ela, até demonstrou dar razão à ela. Não entendi o porque, visto que não era gestante, nem com uma criança de colo, nem outro motivo aparente qualquer que a desse um direito de prioridade e, como eu disse, prioridade por prioridade, todos na fila teriam este direito: eu e as duas senhorinhas atrás de mim.
Uma outra moça ainda balbuciou algo, que eu não consegui entender, para que a mulher se calasse. Eu retruquei: "ela só vai se calar quando eu for embora". Ou não, vai saber quais foram os comentários após a minha saída.
Antes disso, já havia desocupado um dos caixas automáticos e eu sugeri que as duas senhorinhas utilizassem antes de mim.
Muitas coisas me incomodaram, não apenas a grosseria da mulher e a má educação que está passando para aquela criança, que durante os gritos, também resmungava algo, mas era impossível entender devido aos altos gritos. As ameças é que mais me chamou a atenção, não por medo, mas o que faz uma pessoa insinuar qualquer tipo de atentado?
Não sei onde ela mora, de onde vem, o que faz na vida, ou o que deixa de fazer, ou ainda o que não tem. E esta sua condição lhe da o direito de se achar superior a alguém?
O que temos visto, hoje em dia, é que a violência prevalece aos direitos. Tempos insano. Uma falta de respeito absurdo, sem lógica e sem sentido.
E como cobrar algo de uma sociedade doente, que ainda nesta semana pudemos ver nas redes sociais e nos sites de notícias um ex-presidente que, numa suposta enfermidade, desrespeitou uma profissional que estava apenas executando seu trabalho de oficial de justiça e, neste mesmo contexto e momento, desrespeitou um outro profissional que lhe estava assessorando clinicamente ou pessoalmente.
Eu sempre digo: todas as mazelas do Brasil é fruto da falta de educação. Educação que deveria vir das escolas, mas que na falta dela, desde a década de 60, foi formando famílias incapazes de dar educação familiar, formar bons cidadãos - bons cidadãos de verdade não estes que se auto intitulam cidadãos do bem, estes são hipócritas, cínicos e demagogos.
Com isto, não há mais respeito por nada e por ninguém. Vejo isso no dia a dia, em situações banais, como por exemplo, quando caminho numa estreita calçada onde caberiam 2 ou no máximo, bem apertado, 3 pessoas e no sentido contrário ao meu vem um casal que não soltam as apaixonadas mãos para que eu possa passar tranquilamente. Ou ainda, quando atravesso uma passarela, onde também caberiam no máximo 3 pessoas, e no sentido contrário vem 3 amigas, um tanto quanto avantajadas, e também não me permite passar, tendo que apertar-me às grades para poder seguir.
Não há respeito ao pedestre na faixa de pedestre, no banco reservado no transporte público, a prioridade nas filas dos supermercados. A música alta em qualquer lugar e a qualquer hora, as motos com escapamentos adulterados. O vizinho do andar de cima, ou na casa ao lado.
Estamos vivendo numa sociedade narcisista, ufanista. Egocêntricos, egoístas, arrogantes, soberbos e prepotentes; e na mairoria das vezes se escondem-se atrás de uma religião e de um deus (nunca vi um criminoso ateu ou agnóstico, muito pelo contrário, são bem fanáticos religiosos), ou querem prevalecer-se de um poder: financeiro, político, profissional ou criminal.
Se o Brasil fosse decente, não estaria descente.
Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto