sábado, 26 de abril de 2025

RETRATOS DE UM BRASIL SEM TRATO

origem da imagem: https://br.pinterest.com/pin/37295503159521050/


Sexta-feira com uma chuva intensa, temperatura por volta dos 21ºC, 15 horas, chego ao banco e me dirijo aos caixas automáticos.
Todos os oito caixas estão ocupados e uma moça na fila à minha frente.
Enquanto aguardo, verifico uma moça conversando ao celular ao invés de realizar a sua transação bancária no terminal a qual está parada. Talvez estaria a conversar com alguém exatamente para realizar uma tal tarefa, ou simplemente ignorando a quem quer utilizar o sistema e é obrigado-nos a espera-la em sua vida particular.

Neste instante, duas senhorinhas, muito velhinhas, entram na agência bancária e se posicionam exatamente atrás de mim.
Um rapaz finaliza a operação e a moça à minha frente discretamente olha para mim, eu digo: "por favor moça, fique a vontade".

Foi quando, na agência bancária, entra uma senhora, com aparência humilde e de comportamente bem altivo, que aptresentava não ter nem 40 anos de idade, apesar que sugeria ter mais que isto devido seu aspecto cansado. Vestida com um longo vestido marrom de lycra, ou talvez de micro fibra, que marcava exageradamente as saliências desproporcionais do seu fino corpo. Um vestido com estampas grotescas e calçando chinelos tipo Havaianas®. Ao seu lado uma criança de uns 6 anos, aproximadamente, devido o seu falar, mas de uma pequena estatura. Alias, a mulher também apresentava uma baixa estatura.

Eis que esta senhora se encaminha diretamente aos caixas e eu chamo a sua atenção lhe mostrando a fila e orientando onde deveria se posicionar ao final e esperar a sua vez.
Isto foi o suficiente para que aos gritos me ofendesse e me ameaçasse, dizendo que eu não sabia com quem estava mexendo, que lá fora a conversa seria outra e tanto blá blá blá.
Eu digo: "minha senhora, para que este escândalo, estou apenas dizendo que tem que esperar a sua vez, respeitar as pessoas".

Não adiantava eu querer justificar, as palavras de baixo calão, as ofenças e as ameaças continuavam. Gritava que eu era chato por ser rico. Não sei de onde ela tirou esta definição, pois eu trajava uma calça jeans bem surrada, uma camiseta cinza básica, um tênis branco meio encardido devido a chuva e uma mochila de trabalho às costas. Nem aposentado sou, e ainda trabalho para seguir minha vida. E, nestes quase 65 anos de idade, com os cabelos já grisalhos, poderia me prevalecer da prioridade, mas mesmo assim me coloquei no final da fila quando cheguei para poder aguardar a minha vez. 

Um senhor, nos comenta1rios dirigidos à ela, até demonstrou dar razão à ela. Não entendi o porque, visto que não era gestante, nem com uma criança de colo, nem outro motivo aparente qualquer que a desse um direito de prioridade e, como eu disse, prioridade por prioridade, todos na fila teriam este direito: eu e as duas senhorinhas atrás de mim.

Uma outra moça ainda balbuciou algo, que eu não consegui entender, para que a mulher se calasse. Eu retruquei: "ela só vai se calar quando eu for embora". Ou não, vai saber quais foram os comentários após a minha saída.

Antes disso, já havia desocupado um dos caixas automáticos e eu sugeri que as duas senhorinhas utilizassem antes de mim.

Muitas coisas me incomodaram, não apenas a grosseria da mulher e a má educação que está passando para aquela criança, que durante os gritos, também resmungava algo, mas era impossível entender devido aos altos gritos. As ameças é que mais me chamou a atenção, não por medo, mas o que faz uma pessoa insinuar qualquer tipo de atentado?
Não sei onde ela mora, de onde vem, o que faz na vida, ou o que deixa de fazer, ou ainda o que não tem. E esta sua condição lhe da o direito de se achar superior a alguém?

O que temos visto, hoje em dia, é que a violência prevalece aos direitos. Tempos insano. Uma falta de respeito absurdo, sem lógica e sem sentido.

E como cobrar algo de uma sociedade doente, que ainda nesta semana pudemos ver nas redes sociais e nos sites de notícias um ex-presidente que, numa suposta enfermidade, desrespeitou uma profissional que estava apenas executando seu trabalho de oficial de justiça e, neste mesmo contexto e momento, desrespeitou um outro profissional que lhe estava assessorando clinicamente ou pessoalmente.

Eu sempre digo: todas as mazelas do Brasil é fruto da falta de educação. Educação que deveria vir das escolas, mas que na falta dela, desde a década de 60, foi formando famílias incapazes de dar educação familiar, formar bons cidadãos - bons cidadãos de verdade não estes que se auto intitulam cidadãos do bem, estes são hipócritas, cínicos e demagogos.

Com isto, não há mais respeito por nada e por ninguém. Vejo isso no dia a dia, em situações banais, como por exemplo, quando caminho numa estreita calçada onde caberiam 2 ou no máximo, bem apertado, 3 pessoas e no sentido contrário ao meu vem um casal que não soltam as apaixonadas mãos para que eu possa passar tranquilamente. Ou ainda, quando atravesso uma passarela, onde também caberiam no máximo 3 pessoas, e no sentido contrário vem 3 amigas, um tanto quanto avantajadas, e também não me permite passar, tendo que apertar-me às grades para poder seguir.
Não há respeito ao pedestre na faixa de pedestre, no banco reservado no transporte público, a prioridade nas filas dos supermercados. A música alta em qualquer lugar e a qualquer hora, as motos com escapamentos adulterados. O vizinho do andar de cima, ou na casa ao lado.

Estamos vivendo numa sociedade narcisista, ufanista. Egocêntricos, egoístas, arrogantes, soberbos e prepotentes; e na mairoria das vezes se escondem-se atrás de uma religião e de um deus (nunca vi um criminoso ateu ou agnóstico, muito pelo contrário, são bem fanáticos religiosos), ou querem prevalecer-se de um poder: financeiro, político, profissional ou criminal.

Se o Brasil fosse decente, não estaria descente.



Wagner Pires
in, Silêncio, O Culto

sexta-feira, 4 de abril de 2025

A INVASÃO BRITÂNICA

https://www.unijui.edu.br/unijui-fm/noticias/20824-novidade-no-ar-acompanhe-neste-sabado-o-primeiro-episodio-do-programa-invasao-britanica


Não é apenas lamento e histórias de um sexagenário, são recordações de uma experiência única, verdadeira.

Nos anos 80 pudemos presenciar a segunda invasão britânica na música.

Musicalmente foi uma década fantástica (também foi no cinema) que traz influências até aos dias de hoje: estilos, ritmos, a tecnologia e a técnica. A capacidade e criatividade de compositores e produtores. A qualidade e performance de diversos artistas nos palcos e nas telas.


ANOS 80 NA AMÉRICA

Ainda durante esta invasão pudemos presenciar o surgimento do Hip-Hop americano, o Rap, o Break e o Hardcore californiano. O pop americano aperfeiçoado com a mistura do jazz, blues, rhythm & blues.
Tanto as bandas americanas como as britânicas, trouxeram influéncia para formação das bandas brasileira na época.

Os anos 80 não foi o surgimento da dance music, ela surgiu na metade dos anos 70 saida dos guetos com o funk e ganhando o glamour com o sucesso nos cinemas de Saturday Night Fever e levado às discotecas nova iorquinas. Seu auge foi no badalado e polêmico Studio 54 (famosos hollywoodianos, sexo, álcool, drogas e dance music), que fez expandir sua caracteristica, arquitetura, decoração, luzes por casas noturnas no mundo afora.

A dance music com mistura do soul e do blues, influencias do jazz, o swing do R&B, a percurssão afro/brasileira, a conga latina, os corais gospel.
Os primeiros samples digitais com Grandmaster Flash e Afrika Bambaataa. Influências da alemã Kraftwerk e do DJ e produtor italiano Giorgio Moroder.
Revelou o talento de Donna Summer, Diana Ross, a banda Chic e o irreverente James Brown com o Funk original, Rick James.
Trilhas sonoras que agitavam as pistas de dança.

Quincy Jones, o maestro e gênio por traz do sucesso de Michael Jackson. O completíssimo Prince: cantor, compositor, guitarrista, baterista, ator, dançarino, produtor, uma figura característica e marcante. E sua rivalidade com o próprio Michael Jackson pela conquista do topo.
O swing romântico de Lionel Richie, cantor, compositor e produtor que encantava nas baladas.
Lionel Richie e Michael Jackson buscaram apoio de Stevie Wonder para realizarem um ícone da música mundial. Reuniram várias estrelas do planeta: cantores de estilos diferenciados, de lugares distintos e criaram um momento épicopara a música mundial para ajudar uma causa social, acabar coma fome na Áfria - We Are The World, produzido por Quincy Jones.
Esta produção foi inspirada num marco clássico natalino com peso político/social, no ano de 1984 - Band Aid - Do They Know It's Christmas? - originário do Live Aid, Projeto formado por cantores britânicos, aqueles que viriam a ser chamados da 2ª Invasão Britânica na Música; com o intuito de arrecadar dinheiro para combater a fome na Etiópia. Apresentando uma letra forte e direta sobre a desigualdade mundial e a crise humanitária.
Ou seja, um projeto Britânico e, também um sucesso mundial, inspirou cantores americanos a realizarem um segundo projeto em benefício âs necessidades do continente africano. 

Falei da briga pelo reinado entre Prince e Michael, mas não posso deixar de mencionar a sempre polêmica Madonna, diversos anos no topo das principais revistas e playlists das rádios mundiais. Whitney Houston, Anita Baker e Chaka Khan foram outras que se destaracam na década.

Como banda posso destacar Earth, Wind & Fire, e seu lider Maurice White, que apesar de terem surgido nos anos 70, seu sucesso foi consolidado nos anos 80. Roger Troutman foi um visionário, vocalista da banda Zapp com seu estilo Funk Eletrônico com um vocal singular, mestre na utilizazação do recurso talk box (precursor do auto tune). Posso enumerar outras que se destacaram: SOS Band, The One Way, Shalamar, Kool And Gang, The Gap Band.

A guitarra inconfundível de Nile Rodgers, produtor da banda Chic, Sisters Ledge entre outras. As batidas do pop rock de Daryl Hall & John Oates, o retorno triunfal de Tina Turner, o estilo nacionalista de Bruce Springteen, o jeito suave de Billy Joel, o estilo latino de Glória Estefan e Miami Sound Machine. A fusão do jazz, soul com o pop de George Benson. O afinadíssimo Phillip Bailey com seu falsete puro, limpo, cheio de emoção e vida que, apesar de pertencer à banda Earth, Wind & Fire, fez sucesso em carreira solo.

Se fosse falar ainda mais da música norte americana dos anos 80, deveriam ser capítulos a parte de livro devido a sua imensa variedade de estilos e ritmos, a grande quantidade de artistas.
Porém, o destaque veio da Europa.


SEGUNDA INVASÃO BRITÂNICA

A partir dos anos 70 a rádio dava lugar à televisão, e a MTV foi o catalisador do sucesso que viria a ser considerada a Segunda Invasão Britânica (a primeira foi nos anos 60 com os Beatles, Rolling Stones e The Who).
Visto que as bandas inlgesas já estavam acostumadas a produzirem videos clipes explorando todo visual de roupas, cabelos, maquiagem e cenário, a MTV aproveitou para impulsionar sua programação voltada às estas produções, pois os americanos ainda engatinhavam na produção de videos clipes. Portanto, a América foi invadida por estes  sucessos que rapidamente conquistou não só os americanos como todo o mundo.

Os britânicos com seus cabelos estilosos e roupas coloridas, em cenários exóticos detalhadamente pensado e escolhidos para cantarem seus estilos que iam do rock, pop rock, pós punk, new wave e synthpop.

Um dos mais famosos foi a banda Whan! com seu estilo pop chiclete tendo no vocal o cobiçado George Michael, com músicas com letras simples que facilmente ficavam em nossas mentes.
Outro que alcançou rapidamente o público foi a irreverência do pop, soul e reggae do visual andrógino de Boy George do Culture Club em suas músicas suavemente dançantes e baladas apaixonantes.

Da velha guarda, vindas dos anos 70, tivemos a afirmação do sucesso com o carisma e capacidade vocal de Fred Mercury à frente do Queen, em parceria com o grande guitarrista Brian May.
A explosão da banda irlandesa U2 em suas letras ácidas politizadas mescladas ao som do pós punk e sua mensagem social.
A continuidade do sucesso desde os anos 60 da banda de rock Rolling Stones.
E, porque não dizer, da também continuidade de sucesso de David Bowie em suas constanes reinvenções. Não à toa era considerado o Camaleão do Rock, pois a cada década ele se adaptava com sua capacidade criativa.

Quem também se reinventou nos anos 80 foi a banda Genesis. Do rock progressivo do final dos anos 60, para o pop progressivo, agora comandada pelos vocais e bateria de Phill Collins, trazendo sofisticação em suas criações.
Phill Collins que depois partiria para a carreira solo, assim como Peter Gabriel e Mike Rutherford.
Outro das antigas que fez sucesso no início dos anos 80 foi o produtor Alan Parsons em parceria com Eric Wolfson - Alan Parsons And Project com Eye In The Sky.
Mas também vimos o fim da banda de Birmingham Eletric Light Orchestra com destaque para Last Train To London. Um rock clássico tocado como se fosse uma ópera sideral.

Nos anos 80 vimos o brilhantismo do pop melancólico do Tears For Fear. O som eletrônico com influências do soul do Eurythmics. O synthpop de New Order e Depeche Mode com seus estilos dark soul. Ambos moldaram a música eletrônica de hoje. Assim como Pet Shop Boys, outra lenda do synthpop, que traz uma critica social inteligente e elegante.

The Police, chefiado pelo alquimista Sting, o coração poético e melódico da banda, que trouxe energia do punk ao pop jazz. Misturavam romantismo com política, obsessão e filosofia.
Tivemos o sarcástico poeticamente melancólico do estilo da banda The Smiths. Ouvir The Smiths me fazia imaginar andando pelos becos da chuvosa Londres entre seus prédios de tijolos até chegar à um pub emoldurado por chacecóis do Chelsea, Arsenal, Liverpool, Manchester, e debruçar-me numa caneca de cerveja enquanto atirava dardos na parede.

Ninguém soube explorar tão bem as telas de TV como os Duran Duran, mas não só visual, arranjos de qualidade, sempre muito bem produzidos. Os príncipes que exibiam toda  elegância em suas músicas que apresentavam o estilo new romantic no synthpop, pós punk e o rock dançante, apresentavam uma caracteristica futurista e fashion.

Por falar em Duran Duran, que trouxeram o estilo New Wave nas músicas, danças, cabelos e roupas, temos também os Thompson Twins e Talk Talk, que surgiram no synthpop, mas foram navegando em direção ao New Wave lúdico e teatral.

No synthpop mais cru, mais sujo, minimalista, temos a banda Soft Cell.

The Cure e The Cult, ambas com pegada dark intensa cheia de estilo. The Cure apresenta um romantismo sombrio, enquanto The Cult a mística do rock 'n roll.

Para finalizar, talvez, quem traz um estilo que nos faz imaginar caminhando pelas neblinas tipicamente britânica é Echo & The Bunnymen com seu estilo de rock alternativo e pós punk.


EU E A MÚSICA

Dos anos 80 me trazem músicas que me faz viajar.
Viajar pelo tempo, viajar pelo mundo através dos meus sonhos, viajar deitado em meu quarto na madrugada numa eterna viagem em busca dos meus propósitos.
Viajar conduzindo pela estrada numa madrugada qualquer em direção a um lugar qualquer sem objetivo definido. Sem pressa de chegar, sem pressa de partir.
Não sou daqueles que ficam com seus ouvidos cativos no Flashback. Muito pelo contrário. Sou eclético, mas quando se trata de Dance Music eu prefiro ser atual, acompanhar as novas tendências: o techno, house, deep, trance.....apesar que isto, às vezes, me faz lamentar, me frustrar pelos caminhos que escolhi seguir.

Comecei como DJ no início dos anos 80 numa das maiores casas noturnas de São Paulo, consequentemente do Brasil. Vivi intensamente estes anos 80. Surgi ao mesmo tempo que estes estilos e bandas se destacaram. Todos os dias que ouço estas bandas percebo que ainda estão atuais, não trazem aquela sensação de música antiga, ultrapassada, cansada, cheirando a mofo. Traz modernidade, conceitos ainda atuais. Tanto que muitos artistas de hoje usam samples e influências em suas produções hoje em dia. Algumas são regravadas, reproduzidas, remixadas, mashup, bootleg. São a base da programação de algumas rádios alternativas, que fogem da corrida pela audiência, preocupam-se apenas em agradar, tanto aos mais velhos como a um público mais jovem inteligente e exigente em qualidade.


ESPERANÇA

As rádios dos anos 60 troxeram Beatles e Cia. Os clipes na TV dos anos 80 troxeram Queen, U2, George Michael e tantos outros.
Quarenta anos se passaram e nesta era digital ainda não tivemos a "Terceira Invasão Britânica" - que nada mais é do que o desejo de se ter algo com criatividade e qualidade que dominasse o mundo musical e cultural.

Nos Spotify da vida do COTIDIANO somos fadados à monotonia, mesmice, mediocridade instrumental e de letras pobres em apologia à banalidade e futilidade.
Shows e videos com visual e coreografias apelativas. Pregam a libertade, mas vivem presos em seus pobres e limitados conceitos - preferem imitar a criar.

As músicas e artistas de hoje aparecem do nada e somem do nada. Sem identidade. Assim como a rapidez nos cliques nas redes sociais. Os interesses de hoje que podem mudar de uma noite para o dia. O que viraliza hoje, estará velho e esquecido amanhã. O que engaja hoje, pooderá ser cancelado amanhã.

Enquanto ouvimos Coldplay, Adele, Sam Smith, Billie Ailish, Tyler The Creator e poucos alguns.....aguardemos!



por Wagner Pires
in Silêncio, O Culto